Fracasso da gestĂ£o de Caprichoso e Garantido clama por novos tempos 

Cresce neste ano atĂ­pico movimento para que os bois Garantido e Caprichoso adotem novo modelo de gestĂ£o com o fracasso acumulado das diretorias

GestĂ£o PatrocĂ­nio

Neuton CorrĂªa, da RedaĂ§Ă£o

Publicado em: 23/08/2020 Ă s 12:07 | Atualizado em: 23/08/2020 Ă s 12:15

Principais representações culturais do Amazonas, os bois-bumbĂ¡s Garantido e Caprichoso, de Parintins, estĂ£o diante de um desafio. E este Ă© maior do que os que enfrentam todo ano de apresentar o boi na arena e provocar arrepios atĂ© nos mais experientes. 

Desta vez, o desafio Ă© superar o fracasso do modelo de gestĂ£o das Ăºltimas dĂ©cadas, que ameaça nĂ£o sĂ³ as agremiações. Toda a cadeia em volta do maior festival folclĂ³rico da regiĂ£o Norte e dos mais fortes do paĂ­s, que envolve a economia, o turismo, o artesanato, geraĂ§Ă£o de emprego e renda para a categoria artĂ­stica, comĂ©rcio e outros setores ancorados no festival dos bois, Ă© ameaçada por mĂ¡ gestĂ£o administrativo-financeira. 

Dessa forma, o modo de gestĂ£o que perdura atĂ© hoje centraliza recursos e outros poderes numa Ăºnica pessoa: o presidente. 

Como consequĂªncia, ao mesmo tempo em que colecionam tĂ­tulos, os bois foram levados ao fracasso, ano apĂ³s ano.  

Agora, o risco Ă© de falĂªncia total, em um trĂ¡gico desfecho que fatalmente tambĂ©m levarĂ¡ para o mesmo rumo a mais apaixonante festa popular do Amazonas. 

Contudo, surge um grito de alerta da sociedade por novo conceito de gestĂ£o. E isso antes que o caminho para o festival de Parintins se torne sem volta. HĂ¡ um sentimento se fortalecendo de cobrar transparĂªncia e responsabilidade dos dirigentes. 

Tomando-se como referĂªncia que Garantido e Caprichoso sĂ£o folguedos centenĂ¡rios, e que hĂ¡ mais de meio sĂ©culo se tornaram um produto da indĂºstria cultural, a avaliaĂ§Ă£o hoje Ă© que todo esse esforço histĂ³rico estĂ¡ se perdendo. 

 

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Por exemplo, a venda recente do curral do Garantido e o leilĂ£o de patrimĂ´nio do Caprichoso e sua escola de artes, marcado para setembro, sĂ£o um sinal desse fracasso. 

Em sĂ­ntese, os bois sĂ£o obrigados pela Justiça a se desfazer de seus importantes patrimĂ´nios para pagamento de dĂ­vidas trabalhistas. Mostra maior do fracasso dos atuais modos de dirigir os bois nĂ£o poderia existir. 

Mas, esse vexame nĂ£o Ă© o Ăºnico. HĂ¡ muito os bumbĂ¡s vĂªm sofrendo deterioraĂ§Ă£o da imagem da brincadeira, do festival e de si prĂ³prios. 

Falta transparĂªncia e sobram fatos que mostram a irresponsabilidade sociofinanceira que toma conta das duas organizações folclĂ³ricas. 

SĂ³cios, torcedores, apoiadores e patrocinadores assistem a cada ano uma vergonhosa e cĂ´mica apresentaĂ§Ă£o de prestaĂ§Ă£o de contas dos recursos injetados nas agremiações. 

Isso tem preço e a fatura dessa irresponsabilidade começa a chegar. Com juros altos. Como resultado, hoje ninguĂ©m quer associar seu nome ou sua marca a um evento em que seus prĂ³prios dirigentes nĂ£o levam a sĂ©rio a gestĂ£o. 

AlĂ©m disso, nĂ£o esquecer que hĂ¡ dinheiro pĂºblico envolvido para financiar o evento, os bois e a cidade de Parintins. O Governo do Estado, por exemplo, anualmente movimenta forte aparato de segurança, saĂºde, turismo, assistĂªncia social e outros setores para garantir o sucesso do festival. 

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Em resumo, tudo o que estĂ¡ acontecendo agora acende a necessidade urgente de amplo debate. E o principal Ă© sobre a forma de dirigir as entidades. 

E a primeira ideia que surge Ă© que a agremiaĂ§Ă£o nĂ£o deva continuar nas mĂ£os de uma pessoa, o presidente.  

Principalmente porque quando esse dirigente, o manda-chuva do boi, age sem responsabilidade, nem sequer hĂ¡ nos estatutos previsĂ£o legal para que sofra qualquer sanĂ§Ă£o, como devolver valores suspeitos na aplicaĂ§Ă£o. Pelo menos nĂ£o se tem visto isso na histĂ³ria recente.

Dessa maneira, entendem envolvidos com o festival que Ă© hora de os bois experimentarem nova forma de governança. Como, por exemplo, uma gestĂ£o colegiada e profissional. 

Seria um formato parecido com o qual estĂ£o passando os clubes de futebol. Com grandes nomes Ă  beira da falĂªncia, times de camisas histĂ³ricas tiveram de se reinventar na gestĂ£o. E fizeram isso porque perderam recursos de patrocinadores e de direito de imagem na mĂ­dia, alĂ©m de outros prejuĂ­zos. E para fazer jus Ă  ajuda dos governos, foram obrigados a mostrar responsabilidade e, principalmente, transparĂªncias de suas contas. 

O Garantido, que vive momento de transiĂ§Ă£o na sua diretoria, poderia puxar esse movimento. 

HĂ¡ uma atmosfera que o apoia nisso: a nĂ£o realizaĂ§Ă£o do festival, a perda do curral e ter tido a sorte do seu patrimĂ´nio ter sido arrematado por empresĂ¡rio que prometeu nĂ£o despejar o bumbĂ¡. 

Assim sendo, ao invĂ©s de convocar uma eleiĂ§Ă£o, o atual presidente poderia encabeçar uma revoluĂ§Ă£o na agremiaĂ§Ă£o. 

Logo em seguida, o Caprichoso partiria no mesmo rumo.  

Fazendo isso, a chance de os prĂ³prios bumbĂ¡s continuarem a escrever a histĂ³ria que os trouxe atĂ© aqui. Foi pelo nĂ­vel do evento Parintins hoje Ă© a capital nacional do boi. 

 

Foto: ReproduĂ§Ă£o/internet