Principais representações culturais do Amazonas, os bois-bumbás Garantido e Caprichoso, de Parintins, estão diante de um desafio. E este é maior do que os que enfrentam todo ano de apresentar o boi na arena e provocar arrepios até nos mais experientes.
Desta vez, o desafio é superar o fracasso do modelo de gestão das últimas décadas, que ameaça não só as agremiações. Toda a cadeia em volta do maior festival folclórico da região Norte e dos mais fortes do país, que envolve a economia, o turismo, o artesanato, geração de emprego e renda para a categoria artística, comércio e outros setores ancorados no festival dos bois, é ameaçada por má gestão administrativo-financeira.
Dessa forma, o modo de gestão que perdura até hoje centraliza recursos e outros poderes numa única pessoa: o presidente.
Como consequência, ao mesmo tempo em que colecionam títulos, os bois foram levados ao fracasso, ano após ano.
Agora, o risco é de falência total, em um trágico desfecho que fatalmente também levará para o mesmo rumo a mais apaixonante festa popular do Amazonas.
Contudo, surge um grito de alerta da sociedade por novo conceito de gestão. E isso antes que o caminho para o festival de Parintins se torne sem volta. Há um sentimento se fortalecendo de cobrar transparência e responsabilidade dos dirigentes.
Tomando-se como referência que Garantido e Caprichoso são folguedos centenários, e que há mais de meio século se tornaram um produto da indústria cultural, a avaliação hoje é que todo esse esforço histórico está se perdendo.
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Perda de patrimônio
Por exemplo, a venda recente do curral do Garantido e o leilão de patrimônio do Caprichoso e sua escola de artes, marcado para setembro, são um sinal desse fracasso.
Em síntese, os bois são obrigados pela Justiça a se desfazer de seus importantes patrimônios para pagamento de dívidas trabalhistas. Mostra maior do fracasso dos atuais modos de dirigir os bois não poderia existir.
Mas, esse vexame não é o único. Há muito os bumbás vêm sofrendo deterioração da imagem da brincadeira, do festival e de si próprios.
Falta transparência e sobram fatos que mostram a irresponsabilidade sociofinanceira que toma conta das duas organizações folclóricas.
Sócios, torcedores, apoiadores e patrocinadores assistem a cada ano uma vergonhosa e cômica apresentação de prestação de contas dos recursos injetados nas agremiações.
Isso tem preço e a fatura dessa irresponsabilidade começa a chegar. Com juros altos. Como resultado, hoje n inguém quer associar seu nome ou sua marca a um evento em que seus próprios dirigentes não levam a sério a gestão.
Além disso, não esquecer que há dinheiro público envolvido para financiar o evento, os bois e a cidade de Parintins. O Governo do Estado, por exemplo, anualmente movimenta forte aparato de segurança, saúde, turismo, assistência social e outros setores para garantir o sucesso do festival.
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Em resumo, tudo o que está acontecendo agora acende a necessidade urgente de amplo debate. E o principal é sobre a forma de dirigir as entidades.
E a primeira ideia que surge é que a agremiação não deva continuar nas mãos de uma pessoa, o presidente.
Principalmente porque quando esse dirigente, o manda-chuva do boi, age sem responsabilidade, nem sequer há nos estatutos previsão legal para que sofra qualquer sanção, como devolver valores suspeitos na aplicação. Pelo menos não se tem visto isso na história recente.
Dessa maneira, entendem envolvidos com o festival que é hora de os bois experimentarem nova forma de governança. Como, por exemplo, uma gestão colegiada e profissional.
Seria um formato parecido com o qual estão passando os clubes de futebol. Com grandes nomes à beira da falência, times de camisas históricas tiveram de se reinventar na gestão. E fizeram isso porque perderam recursos de patrocinadores e de direito de imagem na mídia, além de outros prejuízos. E para fazer jus à ajuda dos governos, foram obrigados a mostrar responsabilidade e, principalmente, transparências de suas contas.
O Garantido, que vive momento de transição na sua diretoria, poderia puxar esse movimento.
Há uma atmosfera que o apoia nisso: a não realização do festival, a perda do curral e ter tido a sorte do seu patrimônio ter sido arrematado por empresário que prometeu não despejar o bumbá.
Assim sendo, ao invés de convocar uma eleição, o atual presidente poderia encabeçar uma revolução na agremiação.
Logo em seguida, o Caprichoso partiria no mesmo rumo.
Fazendo isso, a chance de os próprios bumbás continuarem a escrever a história que os trouxe até aqui. Foi pelo nível do evento Parintins hoje é a capital nacional do boi .
Foto: Reprodução/internet