“Sindicato da pistolagem” impõe terror na disputa por terras na Amazônia

Edimilson Rodrigues diz que o sindicato da pistolagem é acionado por uma associação de fazendeiros

MPF desmatamento Amazônia

Mariane Veiga

Publicado em: 28/02/2020 às 11:50 | Atualizado em: 28/02/2020 às 11:51

O especialista Edimilson Rodrigues defende que, entre outras razões, há uma rede criminosa muito bem organizada na questão da disputa por terra na Amazônia, onde os pistoleiros são apenas a ponta do iceberg.

“Existe um sindicato de pistolagem que é acionado por uma associação de fazendeiros. É esse sindicato que chama o pistoleiro que, por sua vez, não sabe quem o contratou, o que leva à impossibilidade de uma investigação mais profunda”, explica, em entrevista à IHU.

Para ele, a realidade histórica dos conflitos pelo território no país, que tem origem no período de invasão europeia no século XVI e se desdobra ao longo dos séculos, tem sempre o apoio institucional das instâncias de poder.

“O conflito de terras ocorre porque, desde que temos vivido o processo de colonização, as populações negras e indígenas estão sendo espoliadas. Não por acaso maior incidência de conflito está concentrada nas regiões Nordeste e Norte do país, onde há um grande fluxo migratório incentivado pelo governo”, descreve.

 

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Ele também acrescenta que a condenação pelo mando de assassinato de lideranças políticas e religiosas que defendem o direito à terra é praticamente nula.

Rodrigues esclarece ainda que é preciso entender que os mandantes dos assassinatos não se envolvem diretamente.

Durante sua pesquisa, o especialista se deparou com narrativas sobre sindicatos de pistolagem, que prestam serviços a agrupamentos de fazendeiros, o chamado consórcio.

“A justiça investiga esses casos, por conta, também, de uma pressão internacional, de movimentos sociais, de defesa de direitos humanos”, comenta.

Segundo ele, o limite é que o poder judiciário normalmente chega ao pistoleiro, mas dificilmente ao mandante, porque ele usa um atravessador para encomendar a morte.

Edimilson acredita que o crescimento dos números de violência na disputa por terra, nos últimos anos, está associado ao crescimento dos grupos políticos de extrema direita.

“Se olharmos para os dados desde 2016, após o impeachment, o número de ameaças de morte, assassinatos e criminalização dos movimentos sociais aumentou muito porque temos uma elite política no poder que está afinada com movimentos de extrema direita. Isso indica o senso de impunidade, como se houvesse um contexto de permissão maior para se cometerem crimes”, interpreta.

Leia entrevista completa no site Unisinos.

 

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Foto: Fernando Augusto/Ibama