Bolsonaro mente sobre potássio de Autazes, acusa ong ambiental
Marcio Santilli diz que a execução do projeto de Autazes não depende da regulamentação da mineração em terras indígenas

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 09/03/2022 às 17:03 | Atualizado em: 09/03/2022 às 17:20
Levantamento feito pelo Instituto Socioambiental (ISA) sobre o projeto para a exploração da mina de potássio em Autazes (a 311 quilômetros de Manaus) indica que o empreendimento envolve áreas próximas às Terras Indígenas do povo Mura, mas não incide diretamente na reserva.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem defendido a aprovação do projeto de lei (191/2020), que regulamenta a mineração em terras indígenas, como forma de garantir a exploração do minério no município amazonense.
Bolsonaro usou o conflito entre a Rússia e a Ucrânia para justificar a necessidade de explorar o potássio nas áreas preservadas. O país importa 96% do potássio utilizado na produção de fertilizante para a agricultura, sendo 28% dos russos.
“Como deputado, discursei sobre nossa dependência do potássio da Rússia. Citei três problemas: ambiental, indígena e a quem pertencia o direito exploratório na foz do Rio Madeira”, postou nas suas redes sociais.
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Na segunda-feira (7), o presidente reforçou o pedido feito pelo seu líder na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), no sentido de que a casa decida pela urgência da matéria.
“Agora então, com essa crise internacional, dada a guerra, o Congresso sinalizou em votar esse projeto em regime de urgência. Eu espero que seja aprovado na Câmara já agora em março. E daqui a dois, três anos, então dizer que não somos mais dependentes de importação de potássio para o nosso agronegócio”, disse Bolsonaro numa entrevista para rádio de Roraima.
O sócio-fundador do ISA, Marcio Santilli, diz que a execução do projeto de Autazes não depende da regulamentação da mineração em terras indígenas.
“Bolsonaro encenou uma farsa para seus comparsas imporem a urgência da votação sem que o PL tenha relação efetiva com o suprimento de fertilizantes”, criticou o ambientalista.
Licenciamento
De acordo com Santilli, o projeto de Autazes pretende explorar o principal depósito de potássio já pesquisado na região e está em fase de licenciamento ambiental. “Ele envolve uma área próxima, mas que não incide diretamente nas terras Mura”, explicou.
O levantamento realizado pelo ISA revelou que os requerimentos para extração de sais de potássio no interior das terras indígenas representam apenas 1,6% das jazidas requeridas para exploração. Para a substância fosfato, os pedidos representam ínfimos 0,4% do total de jazidas requeridas na Agência Nacional de Mineração (ANM).
“As informações hoje disponíveis desmentem o presidente e demonstram que quase todos os depósitos conhecidos, ou a serem pesquisados, estão fora das terras indígenas”, disse o ambientalista.
Foto: Tabajara Moreno/Secom/arquivo/2015