Chefe dos policiais da segurança na Maus Caminhos é denunciado

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Publicado em: 30/07/2018 Ă s 14:01 | Atualizado em: 30/07/2018 Ă s 14:01

O esquema de proteĂ§Ă£o ilegal, por parte de policiais civis e militares do Amazonas, a membros do grupo criminoso desbaratado pela operaĂ§Ă£o Maus Caminhos, financiado com recursos pĂºblicos da saĂºde, Ă© o mais novo alvo do MinistĂ©rio PĂºblico Federal (MPF).

Foram denunciados agora Ă  Justiça Federal o coronel da reserva da PolĂ­cia Militar Aroldo da Silva Ribeiro, o mĂ©dico e empresĂ¡rio Mouhamad Moustafa e a empresĂ¡ria Priscila Marcolino Coutinho pelos crimes de corrupĂ§Ă£o ativa e passiva, cometidos em razĂ£o de pagamentos que sustentavam o braço militar da organizaĂ§Ă£o criminosa que desviava milhões de reais da saĂºde pĂºblica do Amazonas.

As apurações concluíram que Moustafa e Priscila pagaram, por meio da empresa Salvare Serviços Médicos, R$ 210 mil ao coronel Aroldo, em parcelas de R$ 10 mil mensais, por serviços de segurança privada chefiados pelo oficial e efetivados ilegalmente por ele mesmo e por outros policiais civis e militares de sua confiança.

Entre as ações do braço armado da organizaĂ§Ă£o foram identificadas atividades de proteĂ§Ă£o pessoal de lĂ­deres do grupo, segurança e realizaĂ§Ă£o de saque e transporte de dinheiro, atos de coaĂ§Ă£o e atĂ© prĂ¡tica de tortura, este Ăºltimo crime jĂ¡ denunciado pelo MPF em outra aĂ§Ă£o.

 

Segurança privada com servidores pĂºblicos

Desde o inĂ­cio das interceptações obtidas com autorizaĂ§Ă£o da Justiça foi possĂ­vel verificar que Moustafa e Priscila contavam com segurança privada de policiais, tanto para deslocamentos prĂ³prios em Manaus e em viagens, quanto para a realizaĂ§Ă£o de algumas tarefas que envolviam o transporte de dinheiro.

Com o avançar das investigações, outras referĂªncias sobre a segurança armada começaram a aparecer. Em uma das situações, a PolĂ­cia Federal flagrou um policial civil carregando o malote de dinheiro em espĂ©cie sacado por uma funcionĂ¡ria das empresas envolvidas no esquema, a quem ele acompanhava como segurança no momento.

 

Grupo tinha até investigadores da Polícia Civil

De acordo com a denĂºncia do MPF, integravam a equipe chefiada por coronel Aroldo 11 policiais, sendo dois investigadores da PolĂ­cia Civil e nove soldados e oficiais da PM.

Eles eram pagos diretamente pelo coronel – nominado pelo prĂ³prio Moustafa como chefe de sua segurança pessoal tambĂ©m em diĂ¡logos telefĂ´nicos interceptados.

A partir da quebra de sigilo bancĂ¡rio, os Ă³rgĂ£os de investigaĂ§Ă£o verificaram que o coronel recebeu, em uma Ăºnica oportunidade, R$ 120 mil da empresa Salvare, como pagamento pelos serviços ilegais prestados ao grupo.

 

Farto conteĂºdo em conversas por telefone

O documento que acusa os rĂ©us perante a Justiça reĂºne uma sĂ©rie de outras situações identificadas em mensagens de texto e conversas telefĂ´nicas entre os membros da organizaĂ§Ă£o criminosa.

Segundo o MPF, nelas fica demonstrado claramente o abuso das funções dos policiais, em especial pelo coronel Aroldo, em prol do esquema e de seus integrantes, incluindo diversos episĂ³dios de quebra ilegal de sigilo funcional com o objetivo de levantar dados sigilosos de desafetos de Moustafa.

O prĂ³prio oficial da PM confessou os fatos durante o interrogatĂ³rio policial, afirma o Ă³rgĂ£o.

 

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Pedida condenaĂ§Ă£o por corrupĂ§Ă£o e danos

Como pedidos finais da aĂ§Ă£o penal, o MPF requer a condenaĂ§Ă£o dos rĂ©us pela prĂ¡tica dos crimes de corrupĂ§Ă£o passiva e corrupĂ§Ă£o ativa, previstos nos artigos 317 e 333 do CĂ³digo Penal, de forma continuada e cumulativa em diversas ocasiões.

As penas mĂ¡ximas individuais para cada situaĂ§Ă£o de corrupĂ§Ă£o passiva e de corrupĂ§Ă£o ativa confirmada Ă© de 12 anos, que poderĂ£o ser somadas ao final da sentença.

O MPF pede ainda a condenaĂ§Ă£o dos trĂªs acusados ao dever de reparar os danos causados aos cofres pĂºblicos, devidamente atualizados, no valor total de R$ 330 mil.

A aĂ§Ă£o penal tramita na 4ª Vara Federal do Amazonas, sob o nº 0010612-05.2018.4.01.3200.

 

OperaĂ§Ă£o Maus Caminhos

Deflagrada em setembro de 2016, a operaĂ§Ă£o Maus Caminhos desarticulou um grupo que possuĂ­a contratos firmados com o governo do estado para a gestĂ£o da UPA (unidade de pronto-atendimento) Campos Sales, em Manaus; da maternidade Enfermeira Celina Villacrez Ruiz, em Tabatinga; e do Centro de ReabilitaĂ§Ă£o em DependĂªncia QuĂ­mica do Amazonas, em Rio Preto da Eva.

A gestĂ£o dessas unidades de saĂºde era feita pela organizaĂ§Ă£o social Instituto Novos Caminhos.

Dos quase R$ 900 milhões repassados entre 2014 e 2015 pelo Fundo Nacional de SaĂºde (FNS) ao Fundo Estadual de SaĂºde (FES), mais de R$ 250 milhões teriam sido destinados unicamente ao INC.

As irregularidades foram comprovadas por meio de informações bancĂ¡rias e fiscais e conversas telefĂ´nicas, obtidas mediante ordem judicial, relatĂ³rios de Ă³rgĂ£os de fiscalizaĂ§Ă£o como o MinistĂ©rio da TransparĂªncia, Controladoria-Geral da UniĂ£o e Receita Federal, e ainda documentos obtidos nas buscas e apreensões, inquĂ©ritos policiais e outros documentos encontrados em fontes abertas.

Os Ă³rgĂ£os de fiscalizaĂ§Ă£o apuraram que os maiores fornecedores do INC eram apenas trĂªs empresas: Salvare Serviços MĂ©dicos, Total SaĂºde Serviços MĂ©dicos e Enfermagem e Sociedade Integrada MĂ©dica do Amazonas (Simea), que faziam parte, na verdade, de um mesmo grupo econĂ´mico, comandado por Moustafa.

 

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Braço político de peso

A investigaĂ§Ă£o mostrou ainda a existĂªncia de um forte braço polĂ­tico do esquema, tambĂ©m denunciado pelo MPF, envolvendo o ex-governador do Amazonas JosĂ© Melo de Oliveira e cinco ex-secretĂ¡rios.

Os gestores pĂºblicos denunciados eram diretamente beneficiados por meio de distribuiĂ§Ă£o de propina e outras vantagens provenientes dos desvios de verbas pĂºblicas coordenados pelo mĂ©dico Moustafa, afirma o MPF.

O processo em que os agentes polĂ­ticos sĂ£o acusados de integrar a organizaĂ§Ă£o criminosa estĂ¡ em fase de audiĂªncias de interrogatĂ³rio de testemunhas de acusaĂ§Ă£o e de defesa, e de oitiva dos rĂ©us.

 

Quem jĂ¡ estĂ¡ condenado

Mouhamad Moustafa, Priscila Marcolino Coutinho, Jennifer Naiyara Yochabel Rufino CorrĂªa da Silva e Alessandro Viriato Pacheco jĂ¡ foram condenados por organizaĂ§Ă£o criminosa a penas de prisĂ£o que, somadas, ultrapassam 36 anos.

AlĂ©m da prisĂ£o, as penas incluem pagamento de multas milionĂ¡rias e a perda de bens de alto valor apreendidos quando a operaĂ§Ă£o foi deflagrada.

Em relaĂ§Ă£o a outros integrantes do grupo, a aĂ§Ă£o penal por organizaĂ§Ă£o criminosa segue tramitando na Justiça Federal.

Outras dezenas de ações criminais por peculato e contrataĂ§Ă£o direta e ações de improbidade administrativa foram ajuizadas pelo MPF contra os envolvidos no esquema e contra empresas utilizadas para o desvio de recursos, ainda em tramitaĂ§Ă£o na Justiça.

Fonte/texto: MPF/AM

 

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Foto: BNC Amazonas