Chega a ser infantil a chantagem que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), fez contra os senadores Omar Aziz (PSD) e Eduardo Braga (MDB), do Amazonas. Ele usou a Zona Franca de Manaus (ZFM) como meio de pressão.
Em sua live semanal, ontem (20), Bolsonaro provocou os parlamentares amazonenses da CPI da covid:
“Ei, senador Aziz, você que fala tanto aí na CPI, senador Eduardo Braga, imaginem aí o estado ou Manaus sem a zona franca?”.
Pois, é possível imaginar
Imediatamente, sem a ZFM, 100 mil pais e mães de família seriam desempregados.
Sem esses empregos, o comércio quebraria.
Sem esse comércio e sem a indústria produzindo, o estado e seus 62 municípios entrariam em falência. Consequentemente, levaria consigo todos os estados vizinhos. Afinal, estes vendem produtos ao mercado de Manaus, maior centro consumidor da região.
O Amazonas, que depende dos 80% da riqueza gerada pela ZFM, recuaria há 60 anos. Dessa maneira, reviveria o atraso de quando a borracha faliu, no pós Segunda Guerra Mundial.
Por tudo isso, a ameaça de Bolsonaro é muito infantil. Ainda mais no contexto de um país que o acusa de genocida por quase 450 mil vidas perdidas, muitas por má gestão do governo. É o que investiga a CPI comandada por Aziz, e daí a preocupação do presidente.
Diante disso, políticos avaliam que a ameaça é carregada de infantilidade porque imagina que vai intimidar o Senado. Chega a ser ingenuidade incabível para um chefe de nação.
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CPI já ecoa resultados
Conforme avaliam políticos, a maioria dos senadores da CPI têm dado mostras de que o espírito que os move no colegiado vai além do passageiro governo de Bolsonaro.
Este vive neste momento a pressão de ter de responder pelos quase 450 mil mortos da covid. Além disso, a CPI da pandemia trabalha para cobrar de Bolsonaro e de futuros governos a obrigação de evitar iguais tragédias.
No caso de Aziz e Braga, há um fato ainda mais objetivo, real e dramático a acossar Bolsonaro: a falta de oxigênio no Amazonas. Deve recair sobre suas costas a culpa por dezenas que morreram asfixiadas. E isso diante dos olhos do ministro da Saúde e de sua força-tarefa, à frente a “Capitã Cloroquina” Mayra Pinheiro.
Logo, não será uma ameaça de fala de internet, desobedecida até pelo seu mais obediente ministro (Pazuello), que fará os dois mais expressivos representantes do Amazonas no Senado mudarem o tom. Portanto, a investigação de responsabilidades de Bolsonaro e outros vão prosseguir.
Chantagem real
Mas, nesse ponto é que a chantagem de Bolsonaro sai dos liames da infantilidade, do imaginário, da fala de internet. E chega ao mundo real, do dia a dia de quem investe, trabalha e vive do modelo ZFM.
Isso porque a simples indireta, que, para mim, foi a mais direta de todas as ameaças verbais de Bolsonaro contra o modelo, tem consequências.
Começa pelo mensagem de instabilidade que passa aos investidores que colocaram dinheiro no interior da Amazônia.
Mostra que ele, o presidente da República, não é sério. Além disso, que não cumpre acordo e age de acordo com o humor do dia.
Igualmente, denota desrespeito aos quase 100 mil trabalhadores do polo industrial da ZFM.
A Zona Franca de Manaus, ademais, não pertence a Bolsonaro. É um patrimônio do Brasil e do povo do Amazônia. E protegida pela Constituição federal.
A política bolsonarista já matou amazonenses asfixiados. Agora, ao que tudo indica, quer matar pai e mãe desse povo.
Veja a ameaça
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Foto: Reprodução/vídeo