Por Iram Alfaia, de Brasília
O The Intercept Brasil revelou documentos e áudios inéditos sobre o projeto Barão de Rio Branco, um plano de ocupação e desenvolvimento da Amazônia.
O vazamento confirma informação publicada no dia 12 de fevereiro de 2019 pelo BNC AMAZONAS , com base em noticia que foi manchete do jornal O Estado de S.Paulo.
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Gestado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o plano do governo de Jair Bolsonaro está em estudo desde abril.
São três grandes obras no Pará: uma hidrelétrica em Oriximiná, uma ponte sobre o Rio Amazonas na cidade de Óbidos e a extensão da BR-163 até o Suriname.
No caso do Amazonas, é mencionado apenas os benefícios para a Zona Franca de Manaus (ZFM) com a energia produzida pela hidrelétrica em Oriximiná.
Além disso, a nova fonte viabilizaria a industrialização do minério de alumina-alumínio “abundante nos municípios da Calha Norte, principalmente em Oriximiná e Óbidos”.
Segundo a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, o plano dará mobilidade de cerca de 800 mil habitantes que moram na região e terá impacto direto na redução do valor do transporte de grãos. A ponte sobre o Rio Amazonas beneficiaria 2 milhões de pessoas, argumenta.
Embora seja uma promessa de Bolsonaro, o asfaltamento da BR- A BR-319 não consta nos estudos.
“O objetivo é integrar a Calha Norte do Pará, na fronteira, ao centro produtivo do estado e do país. A região, extremamente pobre e com baixa densidade demográfica, está cortada por rios e é de difícil acesso. Também é a mais preservada do Pará, estado campeão em desmatamento”, diz um trecho da matéria do Intercept.
Caso seja implementado, o projeto afetaria 27 terras indígenas em áreas protegidas da chamada Calha Norte.
A ideia é chegar as terras agricultáveis no Planalto da Guiana, explorar minério, potencial hidroelétrico e um porto profundo em Óbidos. Num dos slides de apresentação, consta que se trata de uma “região praticamente inexplorada, isolada do centro produtivo do Brasil e de costas para as suas riquezas ao norte”.
“Cuiabá-Santarém parou a margem sul do rio Amazonas. Aí se inicia o nosso projeto”, diz
O governo fala como obstáculos para a ocupação da Amazônia a “campanha globalista” que relativiza a soberania nacional na região.
Segundo um dos documentos, esse movimento utiliza como armas as ONGs, ambientalista/indigenistas, mídia, pressões diplomáticas e econômicas, mobilização de minorias indígenas e quilombolas.
Além disso, o governo acusa haver um aparelhamento de instituições públicas nos âmbitos federal, estadual e municipal.
O plano foi apresentado pela primeira vez quando Gustavo Bebbiano ainda dirigia a Secretaria de Assuntos Estratégicos. Sem o conhecimento de Bolsonaro, Bebbiano iria apresentá-lo em Tiriós, no Pará, numa comitiva integrada pelos ministros Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Damares Alves, dos Direitos Humanos. A comitiva foi vetada e o ex-ministro demitido.
Foto: Divulgação