Conselho do MP não afasta Dallagnol por atividades político-partidárias 

Dallagnol tem condenação suspensa pela Justiça e fica elegível

Mariane Veiga

Publicado em: 10/09/2019 às 12:58 | Atualizado em: 10/09/2019 às 12:58

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) negou hoje, dia 10, por unanimidade, um pedido de afastamento do coordenador da Lava Jato no Paraná, procurador da República Deltan Dallagnol, de suas funções.

Orlando Rochadel, corregedor do CNMP, votou para que Dalagnol responda um processo administrativo disciplinar.

O afastamento foi pedido pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), em uma reclamação disciplinar no conselho.

Ele acusa o procurador de ter exercido atividade político-partidária, o que é vedado a membros do MP.

Em janeiro, em uma série de posts em sua conta no Twitter, Dallagnol se posicionou contra a eleição de Calheiros para a presidência do Senado.

O procurador escreveu, por exemplo, que caso o emedebista fosse eleito “dificilmente veremos reforma contra corrupção aprovada”.

Nos posts, Dellagnol pediu ainda a seus seguidores que fizessem campanha pelo voto aberto, de modo a constranger os senadores a não votarem em Calheiros.

Nesta terça-feira, Orlando Rochadel, votou para que a reclamação de Calheiros resulte na abertura de um processo administrativo disciplinar (PAD), mas não por atividade político-partidária, e sim por quebra de decoro, tipo de violação funcional cuja sanção, de censura, é mais branda.

“Não configura atividade político-partidária a crítica pública por parte de membro do Ministério Público, sendo vedado contudo ataques de cunho pessoal”, disse Rochadel.

Ao proceder dessa maneira, contudo, o corregedor esvaziou a possibilidade de o CNMP afastar Dallagnol, uma vez que a legislação não prevê o afastamento nos casos de processamento por violações menos graves.

Um pedido de vista (mais tempo de análise) do conselheiro Fabio Stica, porém, adiou, sem prazo definido, o fim do julgamento sobre a abertura ou não do PAD contra Dallagnol.

 

Defesa

Em sua defesa, Dallagnol alegou que suas manifestações nas redes sociais se deram em defesa da pauta apartidária do combate à corrupção, e que citou o nome de Calheiros dentro dos limites da civilidade, unicamente por ele ser investigado pelo Ministério Público Federal (MPF).

O procurador argumentou ainda que suas publicações estão protegidas pela liberdade de expressão.

Nesta terça-feira, o advogado Francisco Rezek, que representa Dallagnol, disse que as acusações não passam de “um delírio”.

Para o defensor, houve “um ativismo politico, sem dúvida, mas isso não é atividade político-partidária”.

 

Procedimentos

Ao todo, Dallagnol é alvo de ao menos 10 procedimentos no CNMP, todos do tipo reclamação, um estágio preliminar, com a exceção de um caso, que já provocou a abertura de PAD, capaz de resultar em alguma sanção administrativa contra o procurador.

O PAD, que apura “manifestação pública indevida”, diz respeito a uma entrevista à rádio CBN em que Dallagnol criticou a atuação de ministros do Supremo Tribunal Federal, afirmando que eles passam à sociedade uma mensagem de leniência com a corrupção.

O procedimento foi aberto a pedido do presidente do STF, ministro Dias Toffoli.

Dos 10 procedimentos, sete estão relacionados à divulgação, pelo The Intercept Brasil, de diálogos por meio eletrônico, atribuídos a Dallagnol com outros membros da Lava Jato e com o então juiz federal Sergio Moro, hoje ministro da Justiça e Segurança Pública.

Fonte: Agência Brasil

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Foto: José Cruz/Agência Brasil