A equipe de comunicação do ex-presidente Lula deu “uma mancada” com Marcelo Ramos (PSD) ao produzir um vídeo onde a caricatura dele aparece para ilustrar seu envolvimento no chamado orçamento secreto e de manter relações políticas com o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Logo depois de ser advertida da falha grosseira, uma vez que o parlamentar amazonense declarou seu apoio a Lula e faz oposição a Bolsonaro, a comunicação retirou a peça do ar e reeditou sem a caricatura de Ramos.
Junto também excluíram a imagem do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e de outros deputados do centrão.
Vídeo corrigido
Só permaneceram no vídeo o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e Eliane Nogueira (Progressistas-PI), mãe do ministro que assumiu a vaga dele no Senado.
A peça de 42 segundos diz que barulhos sinistros têm acontecido em Brasília e que o “dinheiro está desaparecendo misteriosamente em um fenômeno natural chamado orçamento secreto.”
Com imagens do Congresso, do submundo, de desenho da Wal do Açai, acusada de ser funcionária fantasma de Bolsonaro, e do superfaturamento da venda de tratores com recursos do orçamento secreto, o vídeo diz que pessoas conseguem permear os dois mundos.
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É nesse contexto que aparecem as caricaturas dos parlamentares do centrão, incluindo Ramos e Pacheco, ambos do PSD. Eles conseguiram permear “os dois mundos sem riscos”, diz a peça.
De acordo com a mensagem, “todas parecem ter relações com o ser maligno conhecido por vários nomes, acredita-se que esse ser está infectando outros e deixando rastro de destruição por onde passa”. Neste caso, o presidente Bolsonaro.
Vídeo com o erro
Duas siglas consideradas expoentes do chamado Centrão – o PP e o PL – despontam entre os partidos cujos integrantes foram mais beneficiados pelas emendas do relator nos anos de 2020 e 2021.
Atual legenda do presidente da República, Jair Bolsonaro, o PL teve o poder de decidir o destino de aproximadamente R$ 1,6 bilhão pagos sob rubrica de RP9.
Entretanto, foi ao PP que coube a liderança. Mais de R$ 2 bilhões saíram dos cofres públicos por indicação de deputados e senadores progressistas.
Os números fazem parte de um levantamento do Congresso em Foco com base em documentos apresentados pelo Senado ao Supremo Tribunal Federal (STF) no último dia 9 de maio.
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As RP9, ou emendas do relator, passaram a ser chamadas de emendas do orçamento secreto diante da falta de transparência sobre os critérios de repasse. Tanto os nomes dos parlamentares responsáveis pelas indicações, quanto o destino desse dinheiro era mantido sob sigilo.
No ano passado o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a adoção, pelo Congresso, de medidas de transparência sobre essas emendas, bem como o envio à Corte de informações relativas às RP9, algo que ocorreu apenas este mês.
Apesar da determinação, a soma das rubricas apresentadas nos documentos do Senado à Corte é de cerca de R$ 11 bilhões. Apenas um terço dos R$ 36,4 bilhões liberados via orçamento secreto nos dois anos em questão.
Progressistas
A aliança com o PP pode ser lida como estratégica para o Palácio do Congresso Nacional. Atualmente a sigla detém a terceira maior bancada da Câmara com 52 deputados federais – antes da janela partidária tinha 38 membros.
Entre eles está o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (AL), que figura no ranking dos parlamentares que indicaram maiores valores dentro das RP9: cerca de R$ 357 milhões nos últimos dois anos.
Foto: reprodução Twitter