Vale do Javari: crime dá ordem unida ao Exército Brasileiro

No Vale do Javari quem manda são traficantes, caçadores, pescadores e garimpeiros ilegais. Enquanto isso, o Exército está na cidade

Ordem Unida 2 CMA

Neuton Corrêa, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 08/06/2022 às 06:27 | Atualizado em: 08/06/2022 às 09:19

O desaparecimento do servidor da Funai Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, que hoje completa três dias, expõe o flagrante fracasso das forças de segurança do país no combate ao crime numa das regiões mais remotas e inóspitas da Amazônia, o Vale do Javari.

Mas, além do fracasso policial, o fracasso do Exército Brasileiro também precisa vir à tona e ser discutido.

Aqui, na Amazônia, o Exército está divorciado de suas funções constitucionais. A Armada, na região, não defende essa porção do território nacional, muito menos essa faixa de fronteira.

Convém observar que o Vale do Javari é a síntese total de ausência do Estado.

Mas, no que diz respeito à fronteira e ao território, a região se tornou, e não de hoje, o vale do crime.

Nos rios e florestas daquela região, quem manda são os traficantes de drogas e armas estrangeiros; são madeireiros, a grande maioria estrangeiros; caçadores, também estrangeiros; garimpeiros; pescadores estrangeiros e brasileiros, que vendem a produção para os países vizinhos.

O Brasil, ali, perdeu a região sem ter oferecido uma resistência real.

O crime dá ordem unida ao Exército, que fez uma escolha: as cidades.

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Sim, o maior efetivo militar do Brasil (são cerca de de 20 mil militares na Amazônia) não está nas fronteiras. Os militares e suas estruturas são fartamente vistos nas áreas urbanas.

Basta ver as instalações do Exército em Manaus. Elas estão sediadas na Ponta Negra, ocupando áreas que poderiam ser usadas no embelezamento da capital, por exemplo.

A Aeronáutica e a Marinha também ocupam áreas privilegiadas das margens do rio Negro.

Assim, a instituição tornou-se o que a linguagem militar chama de embuste. Virou um espaço de trampolim, como se viu na passagem dos últimos comandantes do CMA, que deixaram Manaus para altos cargos em Brasília.

O Brasil precisa repensar essa despesa, sobretudo agora, que vê triunfar o crime.

Não se pode continuar defendendo o Brasil com saliva. Ações também são necessárias.

Internacionalmente, o Brasil já paga o preço por não cuidar da Amazônia.

Foto: Divulgação/CMA