Neuton Corrêa , da Redação
Integrante histórico do Partido Comunista Brasileiro (PCB), desde o tempo em que a legenda atuava na clandestinidade por causa da ditadura militar de 1964, o empresário Luiz Navarro distribuiu ontem, dia 21, uma carta de desfiliação da sigla.
No texto, Navarro deixa claro o seu ressentimento com as recentes mudanças que ocorreram no partido.
Ele vinha se sentindo patrulhado ideologicamente e revelou que os novos dirigentes de seu antigo partido tentavam até fazer ingerências em seus perfis nas redes sociais.
“De uma hora para outra resolveu patrulhar ideologicamente seus camaradas, tal atitude não consta nas RESOLUÇÕES do PCB, não sei apoiado em qual determinação, passou a exigir, quem deveria ser adicionado como amigo, ou bloqueado no Facebook”.
Sobre isso faz a seguinte conclusão, em sua carta:
“É dessa forma que os ditadores se afirmam”.
Navarro faz agradecimento ao povo do Amazonas e afirma que continuará um “marxista-leninista-stalinista”. E perseguindo “a inclusão do povo na participação das riquezas e distribuição justa de rendas para todos”.
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Trajetória do comunista no PCB
Luiz Navarro presidiu o PCB-AM por 17 anos. Deixou o posto em 2017, com o projeto do partido de renovar seus quadros em todos o país.
No Amazonas, ele se tornou conhecido de grande parcela do eleitorado por disputar cargos de senador, prefeito de Manaus e governador do estado e, em todas as eleições, defendendo a participação direta da sociedade por meio dos conselheiros populares.
Entre suas propostas, Navarro defendia o transporte fluvial como modal público em Manaus e mudança de conceito do setor para o interior do Amazonas.
Sempre se posicionou contra o abuso do poder econômico e político nas eleições.
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Com aproximadamente 30 anos de vida pública e conhecido por nunca se aliançar a outros partidos, o veterano militante comunista Luiz Navarro se despede da carreira política. Após deixar a presidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB), cargo que ocupou durante 17 anos, em junho do ano passado, ele optou por atuar nos bastidores da sigla e focar em projetos pessoais.
Com a sua saída, o PCB passou a ser presidido por Gabriel Andrade, que é graduado em Filosofia, sob a premissa de que uma pessoa jovem como o atual presidente significa renovação e desenvolvimento para o partido.
Navarro possui uma extensa participação em processos eleitorais no Amazonas. Foi, por seis vezes, candidato a cargos majoritários no estado, com candidaturas que visavam o Senado, Prefeitura, Governo do Estado e Câmara Municipal de Manaus (CMM). Entretanto, em todos os anos de carreira política, nunca foi eleito.
Sua última participação foi em 2014, quando tentou ser eleito vereador. A decisão de não disputar mais processo eleitoral se deu após a reprovação das contas dessa última campanha, por conta de R$ 100 que não foram contabilizados.
“O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) reprovou minhas contas e, por isso, estou inelegível por 8 anos. Emprestei esse dinheiro para uma candidata do partido, que não o utilizou e me devolveu, mas o contador não incluiu na prestação de contas final”, explicou.
Defensor de um sistema progressista e da participação popular nas decisões do governo, ele tece críticas à classe política no poder e necessidade de uma reforma no poder executivo, legislativo e judiciário.
“Acho que deveria haver uma mudança. Amazonino Mendes (PDT) já não traz benefícios à população. Vejo o lado progressista com bons olhos para a população e, principalmente, para o trabalhador. É preciso haver uma reforma nos três poderes e prender, julgar e condenar aqueles que são responsáveis pela corrupção e entrega das nossas riquezas nas três esferas. Essa é a solução para a política”, disse.
Navarro critica, ainda, a prisão do ex-presidente Lula. “Na administração pública, não interessa pessoas honestas. Se interessasse, Lula não estaria preso”, declarou.
Atualmente, o PCB não possui representatividade em nenhum espaço de poder e é conhecido por não coligar com outras legendas. “Para estar presente, é necessário que seja eleito. O PCB só coliga, no máximo, com PSOL e PSTU. Como esses partidos não chegaram ao poder, o PCB também não”, afirmou.
Apesar de não ter emplacado uma candidatura, com o passar dos anos e a participação ativa nos pleitos eleitorais, a figura carismática de Luiz Navarro tornou-se conhecida entre os eleitores amazonenses. Para ele, a simpatia do público se deve a um programa partidário que objetiva conduzir o povo ao poder popular.
O veterano se despede da carreira política com um sentimento: gratidão. “Saio da política com o sentimento de agradecimento pelo carinho e pela atenção que a população deu à nossa candidatura e ao programa de governo, mesmo que isso não tenha se expressado através de votos”, concluiu.
(Matéria de Ana Luiza, publicada em 9 de junho de 2018)
Leia o anúncio de Navarro
COMUNICADO DA MINHA DESFILIAÇÃO DO PCB
Na data de hoje 21/02/2019, venho por meio desta, comunicar a todos a minha desfiliação do Partido Comunista Brasileiro- PCB, partido este que militei por muitos anos, até mesmo na clandestinidade.
Os motivos que me levaram a tomar esta decisão foram:
O Partido Comunista Brasileiro realizou uma reforma na Comissão Executiva Nacional e transformou o cargo de um único secretario-geral, em vários secretários formando uma Comissão de Secretários-Gerais.
Pois bem, esses camaradas investidos em suas novas funções, parece que de repente para alguns deles, o cargo ficou maior que o ser humano, que de uma hora para outra resolveu patrulhar ideologicamente seus camaradas, tal atitude não consta nas RESOLUÇÕES do PCB, não sei apoiado em qual determinação, passou a exigir, quem deveria ser adicionado como amigo, ou bloqueado no Facebook particular de seus camaradas, que para tal chega até a ofender, para que atendam a determinação.
É dessa forma que os ditadores se afirmam.
É dessa forma que a pessoa vira capacho e passa a ser um servo, um fantoche, sem rumo sem direitos, sem moral e sem personalidade.
Não aceito tirania venha de onde vier. O lema do PCB é “ousar Lutar, Ousar Vencer”, mas quando o militante tenta ousar e tenta lutar, Comissão Política Nacional o bloqueia, com um centralismo nada democrático que já não atende as minhas expectativas de ser humano livre, por esse motivo estou me explicando para os que me honraram com seu voto, agradecendo o apoio e a confiança desse povo que habita o Amazonas, muito obrigado.
Continuo marxista leninista e stalinista, perseguindo a inclusão do povo na participação das riquezas e distribuição justa de rendas para todos.
Manaus, 21 de fevereiro de 2019
Luiz Manoel Navarro
Foto: Facebook/Navarro