Aguinaldo Rodrigues , da Redação
O ex-deputado federal e ex-vice-prefeito Carlos Souza (PSDB) falou pela primeira vez ao vivo sobre a série “Bandidos na TV”, da Netflix. Ao programa “Manhã de Notícias”, de Ronaldo Tiradentes, nesta quinta, dia 6, ele disse que sua família foi vítima de “trama política diabólica” orquestrada por “poderosos” do Amazonas.
“Quem assiste à série não tem mais dúvida de que tudo foi uma trama diabólica, urdida para destruir politicamente uma família e que culminou com a morte do meu irmão [Wallace]”, afirmou.
A série foi lançada nos últimos dias e divide opiniões sobre acontecimentos que envolvem política e polícia desde o final da primeira década deste século.
Tudo começa com a ascensão da família Souza na política do Amazonas, em 2008, a partir do sucesso do programa de notícias policiais “Canal Livre”, apresentado diariamente na TV pelos “irmãos coragem” Wallace, Fausto e o próprio Carlos Souza.
Líder absoluto de audiência no horário do almoço, o “Canal Livre” foi o trampolim para os irmãos na política, levando-os a ocupar as primeiras posições nas eleições municipais e estaduais.
Para Carlos Souza, foi esse sucesso, aliada à coragem de Wallace, como deputado estadual, que começou a incomodar “poderosos” no Amazonas.
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O governador de 2008
Nesse ponto da entrevista por telefone, Tiradentes relata episódio da eleição municipal de 2008, quando o então governador Eduardo Braga (MDB), hoje senador, foi ao seu programa na rádio e reclamou que Wallace o tinha tachado de “ladrão” em um comício.
“Ele [Eduardo Braga] me disse que isso não ia ficar desse jeito, que o Amazonino deveria ter interrompido o discurso, tomado o microfone do Wallace, alguma coisa por aí, não lembro exatamente as palavras”, contou o jornalista.
Nessa campanha, Wallace atuava pela eleição do irmão Carlos Souza a vice-prefeito de Manaus, em chapa com Amazonino Mendes (PDT), que saiu vencedora.
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“Perseguição política, sem dúvida”
À pergunta de Tiradentes se o governador da época teria usado a máquina do estado para perseguir os irmãos, Carlos Souza respondeu:
“Eu acho que quem responde isso é a própria série [‘Bandidos na TV’]. Quem assiste até o final não tem dúvida que foi muita perseguição política”.
E acrescentou, sem citar quais, que havia muitos motivos “para que fizessem isso”:
“Que houve mandante, houve. Que houve executores, houve. A série deixa isso bem claro”.
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Irmãos condenados
Se a série pode ajudar a Justiça a mudar de opinião sobre a família Souza, Carlos disse acreditar que “tudo vai mudar a partir de agora”.
No dia 8 de maio deste ano, os irmãos Carlos e Fausto, este ex-vereador e ex-deputado estadual, foram condenados em primeiro grau a 15 anos de prisão por associação a tráfico de drogas. A sentença também alcança três policiais militares e um ex-policial.
A respeito dos crimes, atribuídos principalmente a Wallace e ao “Canal Livre”, Carlos Souza trata como “uma farsa, novela fantasiosa, cheia de mentiras, de absurdos”, para destruir politicamente sua família.
E que não havia necessidade de encomendar crimes para o programa filmar porque a audiência “batia até a Globo”.
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Cassação, prisão e morte
Por essas acusações, Wallace foi cassado na Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM) em outubro de 2009 por quebra do decoro parlamentar. De acordo com Carlos Souza, era impossível evitar a cassação diante da influência do governador Eduardo Braga e sua base aliada.
Os colegas de parlamento, por 16 votos a 4, e 3 abstenções, cassaram o segundo mandato de Wallace, em votação secreta. Já sofrendo as consequências de uma ascite (barriga d’água), ele passou mal em plenário logo que o resultado foi proclamado.
Preso preventivamente oito dias depois, Wallace viria a ser internado em hospital um mês após a cassação. E assim viveu até 27 de julho de 2010, quando uma parada cardíaca encerrou a trajetória do político-apresentador de TV que agora, uma década depois, reacende sentimentos de dúvida, paixão e ódio.
“Moa”, o que deu início a tudo. Morreu na prisão
Silenciado no Compaj
A série da Netflix não pôde ouvir o ex-policial militar Moacir Jorge Pereira da Costa, o “Moa”, o homem que deu início à história que mistura o poder político com o submundo do crime. Ele denunciou Wallace e seu filho Rafael como os chefes de um grupo criminoso, aos quais servia como segurança.
E nem poderia ouvir. “Moa”, condenado à prisão por esses crimes que envolveram os “irmãos coragem”, foi uma das vítimas do “Massacre do Compaj”, em Manaus, no réveillon de 2017.
Fotos: Reprodução/YouTube