“ZF do Marajó aumenta ‘farra’ fiscal no Brasil”, dizem inimigos da ZFM

Até críticos da ZFM são contrários à criação de igual modelo em Marajó, no Pará

Marajó

Aguinaldo Rodrigues, da Redação do BNC Amazonas em Brasília*

Publicado em: 10/03/2020 às 03:59 | Atualizado em: 10/03/2020 às 07:31

Não foram apenas políticos amazonenses e empresários do polo industrial da Zona Franca de Manaus (ZFM) que atacaram a “zona franca” do Marajó. Essa ideia de novo modelo com incentivo fiscal foi do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), anunciada no Pará no dia 4.

Até os críticos mais ferrenhos ao modelo de incentivos fiscais e de desenvolvimento do Amazonas, de 53 anos – e mais 53 pela frente, até 2073 – também condenaram a ideia.

Conforme executivos de pequenas e médias indústrias de bebidas, ligadas à Afrebras, é preciso estar alerta sobre a nova ZF de Marajó.

A Afrebras é a Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil, de indústrias de fora da ZFM. De acordo com eles, uma zona franca no Pará traria risco de aumento de regalias com benefícios fiscais.

Para esses empresários, que produzem refrigerantes fora da ZFM, temem a “extinção” de pequenas e médias indústrias regionais.

Segundo eles, a proposta favoreceria apenas uma região, em detrimento do desenvolvimento do Brasil como um todo.

De acordo com o diretor da indústria Refrigerantes Juiz de Fora, Ruy Peuluzo, a ZF do Marajá seria novo modelo de regalias fiscais no Brasil. E isso exigirá muito mais atenção do governo com pequenas e médias indústrias.

A empresa de Peuluzo fica em Juiz de Fora, a cerca de 270 quilômetros de Belo Horizonte.

“Se essa nova zona franca for instituída, o governo deverá se preocupar em não prejudicar ainda mais as fábricas regionais. É importante que estudem a fundo essa possibilidade [de novos benefícios fiscais] para que os pequenos produtores do Brasil não precisem fechar as portas”, disse.

 

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Extinção de nacionais

Da mesma forma, o diretor da Bebidas Vendranelli Birigui, Antônio Carlos Vendrame, é crítico da ideia. Birigui fica a 505 quilômetros da capital São Paulo e a empresa produz o refrigerante de guaraná Paulistinha.

Para ele, se a intenção de Bolsonaro se concretizar, será como decretar o fim das fábricas de refrigerantes regionais.

“Se essa zona franca de Marajó for criada, será como ‘bater o martelo’ decretando o fim da existência de pequenas e médias indústrias regionais. Basta olharmos para a redução notória desde 1960”, afirmou.

De acordo com o livro “Por trás do rótulo, de 1960 a 2015”, mais de 600 indústrias do setor fecharam as portas no Brasil.

“Caso esse novo modelo de incentivos fiscais aumente benefícios às multinacionais, teremos de fechar as portas. Não teremos condições de nos manter no mercado”, disse.

 

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Regalias às multinacionais

De outro lado, a preocupação da fábrica Fest Bebidas é com a expansão de subsidiárias de multinacionais, como Coca-Cola, Ambev e Heineken, ao Pará.

Para o diretor Alberto Kearcher, essas corporações poderão aumentar lucros e gerar mais dificuldades concorrenciais ao mercado.

Ele disse temer que pequenas e médias fábricas não consigam arcar com as dificuldades tributárias trazidas por nova ZF.

“No início dos anos 2000, o Rio Grande do Sul tinha mais de 50 indústrias de bebidas. Mas, 20 anos depois, somos cerca de 12. Os benefícios fiscais que as grandes corporações da ZFM utilizam prejudicam nossa sobrevivência”, afirmou.

A Fest Bebida é de Venâncio Aires, a 250 quilômetros de Porto Alegre.

*Com informações da assessoria da Afrebras

 

Foto: Reprodução/site Folha do Juruá