Vai conhecer meu treme terra

O treme terra compõe a orquestra de percussão chamada no boi vermelho e branco de Batucada.

Vai conhecer meu treme terra

Ednilson Maciel

Publicado em: 29/06/2023 às 12:27 | Atualizado em: 29/06/2023 às 12:27

A toada hit do Garantido em 2023 faz menção ao tambor batizado “pavulamente” de treme terra, em alusão à sua potência sonora. O treme terra compõe a orquestra de percussão chamada no boi vermelho e branco de Batucada.

Nela, há quatro tipos de surdo. Diferenciam-se por polegadas de diâmetro. O de 22 e 24 polegadas são os que fazem a marcação da toada, o tum tum que lhe caracteriza. Esses são o tambor Treme Terra. Eles fazem, como se diz no funk, “o grave bater”.

Os de 18 e 20 polegadas fazem o trabalho de corte. Eles fazem mais toques do que os treme terra, que neste ano, no Garantido, são de 94 batidas por minuto.

Na Batucada, há ainda as notas de afinação médias feitas pelo tambor denominado de repique. E pelas palminhas, que são duas tábuas de madeira que, ao se encontrarem, estalam. Assim denominadas porque são tocadas reproduzindo o movimento de bater as palmas das mãos.

As notas agudas são feitas pelo tambor chamado caixinha. Ela faz o “taca tic taca tic taca” que dá swing à toada. Enquanto o treme terra faz a marcação mais grave, a caixinha faz a condução aguda dos demais instrumentos. Juntos, eles sustentam a orquestra.

Já o rocar é um instrumento feito por uma base de ferro com anéis. Ele atua como um chocalho, produzindo variações rítmicas. Assim como o atabaque, recém-introduzido na Batucada.

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Rio treme

Para os compositores Gaspar Medeiros, Cíntia Mesquita e Domingos Barbugian, quando a galera e a Batucada se encontrarem a Cidade Garantido vai balançar. Isso porque o curral vermelho está localizado à margem do rio Amazonas.

O grande rio é geologicamente jovem, ainda está em formação. As suas margens, chamadas de barrancas, despencam com a força da subida das águas, redesenhando-lhes. Antes de cair, sente-se um tremor que anuncia o fenômeno.

Os rios menores que alimentam o grande rio fazem curvas que se assemelham aos movimentos de uma cobra. Para os ribeirinhos, eles são o lastro da entidade “cobra grande” que habita o fundo dos rios. Quando ela se mexe, chove forte, a terra treme e o barranco cai.

Assim, nessa composição a Batucada é como uma cobra grande e a galera é o grande rio. Quando se encontrarem, a arquibancada, tal como uma barranca, vai, literal e assustadoramente, tremer.

Fotos: Igor Braga/especial para o BNC Amazonas

Dassuem Nogueira, especial para o BNC Amazonas