O tom da conversa entre o ex-juiz federal Sergio Moro e o procurador da Lava Jato , Deltan Dallagnol, representa crime e a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Esta é a interpretação do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao analisar trecho da gravação vazada do diálogo entre os dois integrantes da operação Lava Jato, em 2016.
Mendes tem também histórico de diálogos ou relações suspeitos com pessoas suspeitas (na foto, Lula e Mendes em uma das sessões do STF ).
Mendes concedeu entrevista à revista Época e criticou Moro e Dallagnol pelo tom dos diálogos registrados em um aplicativo de conversas e ponderou sobre consequências para a operação Lava Jato associadas ao conteúdo publicado pelo site “The Intercept Brasil”.
De acordo com Mendes, as mensagens divulgadas no domingo (9) mostram que “o chefe da Lava-Jato não era ninguém mais, ninguém menos do que Moro. O Dallagnol, está provado, é um bobinho. É um bobinho. Quem operava a Lava-Jato era o Moro”, disse Mendes, na entrevista.
O ministro identifica implicações diretas das revelações para o desenrolar da operação. “Eu acho, por exemplo, que, na condenação do Lula, eles anularam a condenação”, analisou Mendes, referindo-se aos trechos das conversas que sugerem uma colaboração entre Moro e Dallagnol.
Mendes viu até a prática de um crime nas conversas vazadas.
“Um diz que, para levar uma pessoa para depor, eles iriam simular uma denúncia anônima. Aí o Moro diz: ‘Formaliza isso’. Isso é crime”, avaliou Mendes, referindo-se a um trecho das mensagens em que Dallagnol escreveu que faria uma intimação oficial com base em notícia apócrifa, diante da negativa de uma fonte do MPF de falar. E Moro respondeu que seria “melhor formalizar”.
“Simular uma denúncia não é só uma falta ética, isso é crime”. Mendes ressalta não ser contra o combate à corrupção, mas sim contra o que ele chamou de “modelo de Curitiba”.
As avaliações de outros ministros do STF sobre o tema e as consequências relacionadas ao vazamento das conversas estão na reportagem de capa desta semana de Época.
As conversas de Gilmar Mendes
O ministro Gilmar Mendes foi também flagrado em conversas nada republicanas com o então governador do Mato Grosso, Silval Barbosa, então do PMDB, preso pela Polícia Federal por porte de arma sem licença. Isso aconteceu em 2014. E também com o então senador Aécio Neves (PSDB-MG) há dois anos.
À época, no caso do Mato Grosso, o próprio Supremo Tribunal Federal (STF) havia autorizado a PF a vasculhar a casa de Barbosa, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Mais tarde do mesmo dia 15 de maio, Gilmar Mendes pediu para seu gabinete telefonar ao então governador.
Ali, travou-se a conversa entre os dois na qual os ministro se mostra solidário com a situação de Barbosa e promete falar com o ministro Dias Toffoli sobre a prisão. Leia sobre este caso no site Jusbrasil.
Em outro caso, o Ministério Público Federal (MPF) pede a suspeição de Gilmar Mendes para julgar questões relativas ao ex-senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) e o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o “Paulo Preto”.
E, segundo o MPF, o ex-senador “tem laços de proximidade de natureza pessoal” com Gilmar Mendes, de acordo com reportagem publicada por Congresso em Foco em 6 de março de 2019.
Ainda sobre Gilmar Mendes, pesou sobre ele o fato de ter conversado com o investigado senador Aécio Neves (PSDB-MG) em 2017.
De acordo com o site Nexo , a Polícia Federal grampeou na manhã de 26 de abril de 2017 um telefonema feito pelo senador Aécio Neves para o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.
Na conversa, Aécio pede que o juiz (Mendes) telefone para o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e diga o seguinte: “Acompanha a posição do Aécio porque eu acho que é mais serena”, ao que Gilmar Mendes responde: “Tá bom. Eu falo com ele”.
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Foto: Reprodução/Sensacionalista