Ministro do Meio Ambiente é chamado de moleque, ao vivo, na Câmara
Ricardo Salles chamou deputado de “ambientalista de palanque”

Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 03/05/2021 às 19:04 | Atualizado em: 03/05/2021 às 19:30
A audiência do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e de Viação e Transporte, na Câmara dos Deputados, foi marcada por bate-boca
Após ouvir críticas dos deputados Rodrigo Agostinho (PSB-SP) e Paulo Guedes (PT-BA), Salles ironizou Guedes, dizendo que o ministro homônimo era competente e que cada um tinha o Paulo Guedes que merecia.
O titular da pasta do Meio Ambiente ainda chamou Agostinho de “ambientalista de palanque”.
Enquanto Salles se referia ao deputado Paulo Guedes, o parlamentar gritou ao fundo: “Deixa de ser moleque”.
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Salles disse que não ofendeu ninguém, e continuou – desta vez em relação a Agostinho. O ministro afirmou que o deputado, após mandato como prefeito de Bauru, deixou uma dívida de R$ 33 milhões, por desrespeito às regras ambientais.
“Antes de falar do legado do meio ambiente, cuide de lá do seu município de Bauru, que tem muitos problemas”, declarou.
Muitos parlamentares passaram a chamar Salles de moleque, e os governistas pediram que cortassem as falas dos deputados da oposição.
Interrupção
Antes, deputados governistas se mobilizaram para blindar Salles.
A deputada federal Vivi Reis (PSol-AP) falou sobre uma das viagens do ministro ao Pará, onde ele posou para fotos com madeiras apreendidas.
A parlamentar, entretanto, foi interrompida pela “tropa de choque” do governo.
“Boa tarde a todos e todas, eu sou a Vivi Reis, deputada federal do PSol no Pará, estado esse que o ministro frequentemente visita, para fazer negociações com os madeireiros, com garimpeiros, com grandes empresários. Em abril deste ano, a Polícia Federal apreendeu 200 mil metros cúbicos… de madeira”, falava a parlamentar, quando foi interrompida.
“Pela ordem, está fora da pauta, presidente [Carla Zambelli]”, disse o deputado Nelson Barbudo (PSL-MT). “A senhora quer agredir o ministro, vá a outra reunião”, acrescentou.
O deputado Éder Mauro (PSD-PA) endossou o coro: “A senhora deputada Vivi, do PSol do Pará, está fugindo completamente da pauta que está sendo tratada”.
“Trinta segundos eu falei, como Vossa Excelência diz que estou fugindo do objeto?”, retrucou a deputada do PSol.
Zambelli pediu que Vivi Reis se restringisse ao tema e que “nenhum deputado poderá se referir de forma descortês ou injuriosa a membro do Poder Legislativo ou autoridade constituída a este ou demais poderes da República”.
Vivi disse que nem havia começado a falar. Salles, então, reclamou: “A senhora fez insinuações à minha pessoa que não são verdadeiras”.
A deputada questionou a relação do ministro com madeireiros e finalizou: “A boiada não vai passar, ministro”.
Madeira ilegal
O ex-superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime contra Salles, por suposta atuação do ministro para obstruir a investigação que apreendeu lotes de madeira ilegal, como parte da operação Handroanthus.
Segundo Saraiva, o ministro teria praticado três delitos: dificultar a ação fiscalizadora do poder público no meio ambiente, exercer advocacia administrativa, e integrar organização criminosa. Saraiva foi removido do cargo por causa da denúncia.
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Foto: Reprodução/ Twitter/ Ricardo Salles