Farra do orçamento secreto compromete aposentadorias
O valor liberado pela MP fica fora do teto de gastos, a regra que impede aumento de despesas acima da inflação de um ano para o outro

Diamantino Junior
Publicado em: 15/12/2022 às 09:29 | Atualizado em: 15/12/2022 às 09:29
O presidente Jair Bolsonaro editou, nesta quinta-feira (15), uma Medida Provisória (MP) que abre crédito extraordinário no valor de R$ 7,56 bilhões no orçamento para cobrir despesas com previdência.
O Ministério da Economia diz em nota que: “A MP observa requisitos de urgência e imprevisibilidade exigidos pela Constituição, já que houve crescimento com essas características na despesa, ocasionado, entre outros fatores, pelo recente desrepresamento da fila de requerimentos”.
A MP segue o entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU), da semana passada, que, após consulta do governo, permitiu a liberação de crédito extraordinário para o Ministério do Trabalho e Previdência diante da insuficiência de recursos, que poderiam suspender o pagamento de despesas obrigatórias.
A votação do TCU foi apertada, mas o entendimento majoritário foi que, diante dos bloqueios no Orçamento de 2022, pagamentos de verbas como aposentadorias, Benefício de Prestação Continuada (BPC), seguro-desemprego e outros poderiam ser interrompidos.
Apesar de o governo alegar imprevisibilidade e urgência, ministros citaram em seus votos que a União teria condições de prever as despesas, mencionando inclusive o aperto no Orçamento causado pelo pagamento das emendas RP9, as emendas de relator, apelidadas de “Orçamento Secreto”. Os ministros lamentaram o fato de serem obrigados a autorizar, de forma heterodoxa, créditos extraordinários.
O valor liberado pela MP fica fora do teto de gastos, a regra que impede aumento de despesas acima da inflação de um ano para o outro.
Mesmo que a decisão do TCU e o crédito extraordinário permitam ao governo gastar fora do teto, Murilo Viana, especialista em contas públicas, afirma que, de qualquer forma, o crédito extraordinário é uma despesa primária, que eleva o valor gasto pelo Tesouro Nacional neste ano.
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“É um sintoma do apagar das luzes do atual regime fiscal brasileiro, baseado no teto de gastos. A máquina pública está parando completamente neste final de ano, com falta de orçamento para operar os mais diversos ministérios e programas, desde pagamento de bolsas de mestrado à emissão de passaportes pela polícia federal, pagamentos previdenciários e a manutenção de fornecimento de água por caminhão-pipa no Nordeste”, diz Viana.
O economista acrescenta que as despesas discricionárias estão nas mínimas históricas e o investimento público sequer é suficiente para cobrir a depreciação do estoque de investimento público.
Leia mais na matéria de Priscila Yazbek no portal da CNN Brasil
Foto: divulgação