Nada de ZFM, Guedes quer mesmo é Amazônia plantando cacau

Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 19/03/2019 às 13:08 | Atualizado em: 19/03/2019 às 13:08
Aguinaldo Rodrigues, da Redação
Definitivamente, desenvolvimento pelos caminhos da modernidade para os povos da Amazônia não é algo que passa pela mente do ministro da Economia, Paulo Guedes. Após a região viver a era de ouro do ciclo da borracha, extraída dos seringais no meio da floresta, a ideia do governo federal agora é usar milhões de hectares das terras amazônicas para plantar cacau.
Tecnologia, apesar de o Amazonas sediar dos maiores centros da América Latina, com a Zona Franca de Manaus (ZFM), de onde saem produtos de última geração para todo o mundo, só deve existir para as regiões mais ricas do Brasil, o Sul e o Sudeste.
Enquanto todo o Norte e Nordeste espera que o ministro anuncie algum projeto para a indústria 4.0 da ZFM, por exemplo, ele insiste em criar entraves para o maior polo industrial brasileiro. Paradoxalmente, é o mesmo que nasceu da visão de um governo militar de tentar compensar o desequilíbrio, hoje cada vez maior, entre as regiões do país, e o que Guedes agora maquina contra, incentivando o extrativismo, como no período colonial.
Leia mais
De volta ao Congresso, Arthur cobra mais atenção do governo à ZFM
Financiando o extrativismo colonial
Seu ministério, que já implantou uma junta militar no comando da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), nas mãos de um coronel do PSL, o partido do presidente da República, portanto, empregado por indicação política, agora teve a brilhante ideia de alavancar a economia do Norte-Nordeste com financiamento ao plantio de cacau na floresta amazônica.
O plano é usar 70 milhões de hectares da Amazônia para atender a indústria cacaueira. Não é que o governo federal tenha elaborado um projeto para incentivar a agricultura nos estados amazônicos. Nada disso. É apenas uma cultura, para atender a um setor empresarial específico.
E nem chega a ser uma ideia original, porque o Amazonas, que preserva mais de 90% de sua floresta em pé, já planta cacau e o produtor pouco ou nenhum incentivo tem para isso. O Pará, campeão em terras desmatadas entre os estados do Norte, era até 2018 o maior produtor brasileiro de cacau e um dos dez primeiros do mundo.
Leia mais
Em defesa da ZFM, Arthur faz artigo endereçado a Paulo Guedes
Agro não é pop na Amazônia
O que Paulo Guedes articula hoje é a venda de títulos verdes, os chamados green bonds. “Houve um sequestro da agenda ambiental por grupo anticapitalista e queremos trazê-la para um ambiente de negócios, preservando e gerando riqueza”, disse um subsecretário do ministério.
Para fazer valer o “agro é pop” na floresta amazônica, Guedes envolveria o Ministério da Agricultura com o Banco Mundial e o BNDES.
A semente está sendo amadurecida, afirma o jornal O Estado de São Paulo nesta terça, dia 19, e deve ser lançada no meio do ano.
Na mente de Guedes, plantar cacau vai brecar desmatamento.
Leia mais na Coluna do Estadão.
Leia mais
Marina vê futuro governo como um risco para a Amazônia
Foto: Reprodução/Ceplac