Zona Franca de Manaus agora é tábua de salvação do governo Bolsonaro

Pressão internacional faz governo federal repensar agenda amazônica

Israel Conte

Publicado em: 29/01/2020 às 20:21 | Atualizado em: 29/01/2020 às 20:26

Neuton Corrêa, da redação

 

De importância ignorada pela equipe econômica do governo Jair Bolsonaro (sem partido), ironicamente, a Zona Franca de Manaus (ZFM) transformou-se no começo deste 2020 a tábua de salvação à boa imagem eleitoral do presidente e ambiental do Brasil no exterior.

Se o reconhecimento não veio pelo viés fiscal por meio dos incentivos tributários, há muito considerados principais instrumentos de proteção da cobertura ambiental da Amazônia, chegou pela pressão externa.

A pressão é do capital internacional que Bolsonaro, por meio de seu ministro Paulo Guedes, tentou atrair para o País acabando, por exemplo, com as isenções fiscais da indústria nacional, entre as quais as da Zona Franca.

 

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Esta ZFM, por sua vez, é um modelo de desenvolvimento econômico e social criado há 53 anos para tentar corrigir distorções regionais ainda hoje existentes e que agregou ao longo tempo um grande ativo ambientalista.

E de que forma esta pressão está se dando?

A resposta vem do Banco Central: “pelos fluxos financeiros” do País, comenta Fernando Exman, em artigo publicado nesta quarta-feira, dia 29, pelo jornal Valor Econômico.

 

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Num texto intitulado “Nova dinâmica para ações na Amazônia”, Exman cita a Zona Franca de Manaus como uma das primeiras vítimas ambientais do atual governo, ao proporcionar o que chamou de “cenas explícitas de insegurança jurídica” ao modelo”:

“Nesta administração, as primeiras vítimas da área ambiental foram as estatísticas sobre desmatamento e estudos sobre o aquecimento global. Por vezes, o debate sobre os possíveis modelos de desenvolvimento da região amazônica não se tornou público. Em outros casos, ocorreram cenas explícitas de insegurança jurídica, como quando o governo enviou sinais trocados sobre incentivos fiscais para a Zona Franca de Manaus”.

 

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Nesse sentido, ele cita o recém-criado Conselho da Amazônia, a Secretaria da Amazônia, com escritório em Manaus, a Força Nacional Ambiental e a reformulação do Programa Calha Norte.

 

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Com essas decisões, na análise de Fernando Exman, o presidente manda recado para dentro e fora do país, responde aos mercados e antecipa reação às discussões eleitorais de sua sucessão.

“Outros pré-candidatos a presidente da República também já modulam seus discursos para a região e sobre a região. O governo criou uma oportunidade para sair da armadilha de tratar a agenda amazônica apenas como parte de sua luta ideológica contra a esquerda”.

O texto de Exman reforça o que há muito a Amazônia, e em especial o Amazonas, falam ao presidente, que prefere dar ouvidos ao seu ministro Paulo Guedes: que a floresta em pé tem mais valor do que destruída.

Ao que tudo indica, o governo Bolsonaro não quer esperar pelo pior e corre para não ver a imagem do Brasil ambientalmente agravada internacionalmente, até porque pode pôr por terra todo o seu esforço para recuperar a economia doméstica.

 

Fotos: Alan Santos / PR e Drone BNC