Na solidão da cela de uma penitenciária, José Melo remoeu por 113 dias um forte sentimento de injustiça a que acredita ter sido submetido. Ele estava ali para cumprir uma pena imposta por perseguição política de seu algoz, o hoje senador Eduardo Braga (MDB), conforme revelou nesta segunda, 8 de novembro de 2021.
Como resultado desses quase quatro meses de prisão, ao voltar para casa, em prisão domiciliar, o ex-governador do Amazonas desenvolveu forte depressão.
E, por muito pouco, não cometeu suicídio. De acordo com o que disse ao jornalista Ronaldo Tiradentes no programa “Manhã de Notícias”, na primeira entrevista depois de um auto-exílio de quase quatro anos, ele chegou a preparar tudo para dar cabo à própria vida.
Melo conta, portanto, que escreveu uma longa carta que pretendia deixar após a sua morte. Nela narrou, além da história de sua vida, altas revelações sobre a convivência política com o próprio Braga, de quem foi principal auxiliar de 2003 a 2010, quando este foi governador, portanto, por dois mandatos seguidos.
“Eu ia me matar, mas eu ia deixar um estrago muito grande”.
Tal carta, de acordo com ele, continha ainda histórias vividas com outros políticos, como o ex-governador Amazonino Mendes (União Brasil), seu padrinho na política; o senador Omar Aziz (PSD), de quem foi vice-governador de 2011 a 2014.
Com estes, contudo, Melo deu a entender que só tinha relatos positivos, bem ao contrário do senador Eduardo Braga.
Essas revelações ficaram trancadas em uma gaveta do escritório de Melo por 30 dias, enquanto ele tomava coragem para o suicídio.
“Na minha cabeça, passou os amigos, passou os inimigos, as traições, passou tudo, e eu botei no papel. Era uma herança maldita”.
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Presença de Helena
De acordo com o ex-governador, eis que surge Helena. Trata-se de uma criança acolhida em casa por Edilene, sua mulher. Foi ela que, em resumo, fez Melo desistir da ideia de se matar.
Por conseguinte, ele também resolveu destruir o documento revelador.
“Fui tirar o documento, rasguei, joguei fora. Isso é apagado da minha vida, nunca mais eu quis saber disso”.
Melo acrescentou que no pior dia desse período, que começou com a cassação em 2027, pensou em tirar a própria vida. Conforme revelou, foi um dia pior do que todos os que passou na prisão.
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Ação de Braga, derrotado por Melo
Melo é ex-governador do Amazonas. Ele perdeu o mandato por ação de Braga, a quem derrotou nas urnas em 2014. E com larga margem de diferença: 173 mil votos, em uma virada histórica do primeiro para o segundo turno.
Melo, além de cassado por acusação de Braga de compra de voto , foi preso. Ele apareceu, dessa forma, como principal alvo da operação Maus Caminhos, que apurou desvio de recursos da saúde pública.
O ex-governador do Amazonas, que ainda luta na Justiça para provar sua inocência, vem conseguindo vitórias seguidas sobre a denúncia inicial.
Confira a entrevista, na íntegra
Na entrevista a Tiradentes, Melo revela ainda detalhes do processo na Justiça, a falta de dinheiro para pagar sua soltura e o apoio de amigo. Em conclusão, confirma que quer voltar à política como deputado estadual.
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Foto: Reprodução/TV