A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e seis partidos políticos pedem que o Supremo Tribunal Federal (STF) determine ao governo federal barreiras sanitárias de proteção aos indígenas contra a pandemia.
O grupo alegou que há um risco real de genocídio.
A entidade pede o funcionamento imediato da “Sala de Situação” para subsidiar a tomada de decisões dos gestores.
Leia mais
Também pede a ação das equipes locais diante do estabelecimento de situações de contato, surtos ou epidemias envolvendo povos indígenas isoladas e de recente contato.
O documento defende a participação de representantes do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos povos indígenas indicados pela Apib.
Expulsão de invasores
A Articulação cobra que a União tome imediatamente todas as medidas necessárias para a retirada dos invasores de terras indígenas:
Yanomami
Karipuna
Uru-Eu-Wau-Wau
Kayapó
Araribóia
Munduruku
Trincheira Bacajá
O grupo defende, se for necessário, o uso das Forças Armadas.
Apib critica governo
Na ação, a Apib tece críticas à atuação do governo federal e argumenta que os danos e riscos da pandemia do novo coronavírus para os povos indígenas são maiores do que para o restante da população e sustenta que há a “possibilidade real de extermínio de etnias inteiras, sobretudo de grupos isolados ou de recente contato”.
“A irresponsabilidade sanitária do governo federal — que, mesmo depois de 55 mil mortos no país, continua tratando o coronavírus como ‘gripezinha’, com indiferença e negacionismo científico — se aliou ao aberto racismo institucional contra os povos indígenas, para gerar uma verdadeira tragédia civilizacional. Está em curso um genocídio! E vidas indígenas importam!”, afirma.
Vítimas do coronavírus
A entidade cita que, de acordo com o Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena da Apib, até o dia 27 de junho, o país registrava 378 indígenas falecidos, 9.166 infectados e 112 povos atingidos pelo vírus.
“Com base nos dados da Apib, verifica-se que o índice de letalidade da covid-19 entre povos indígenas é de 9,6%, enquanto que, entre a população brasileira em geral, é de 5,6%”, contabiliza.
A associação menciona os fatores para agravamento da situação dos indígenas:
A “presença impune” de invasores nas terras
Estimulação por “políticas governamentais e pelo discurso de ódio do próprio presidente da República”
Dificuldades no tratamento da covid-19 em localidades remotas e falhas e omissões de órgãos estatais nas políticas públicas específicas para enfrentamento ao doença, notadamente da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, e da Fundação Nacional do Índio (Funai).
“O governo federal não vem combatendo essas invasões. Pelo contrário, o comportamento das autoridades públicas é de absoluta leniência, quando não de encorajamento, como se vê de declarações do presidente Jair Bolsonaro”, diz a entidade.
A Apib lembra ainda que diversos órgãos internacionais vêm alertando para a necessidade de proteção especial para os indígenas durante a pandemia, citando ainda diretrizes do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. A ação foi distribuída para o ministro Luís Roberto Barroso relatar.
Leia mais UOL
Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República