O superintendente da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virgílio Viana, disse nesta terça-feira (12), durante depoimento da CPI das ongs do Senado , que a entidade que ele dirige é 100% nacional e 76% dos colaboradores são amazonenses.
A resposta veio em meio às insinuações do presidente da comissão, senador Plínio Valério (PSDB-AM), e do relator, senador Márcio Bittar (União Brasil-AC), de que a entidade age sob influência estrangeira para impedir a exploração dos recursos da Amazônia.
“A FAS, senador Plínio, muitas vezes é interpretada de uma forma que não corresponde aos fatos: 76% dos nossos colaboradores são amazonenses; 60% dos superintendentes, dentro dos quais eu me incluo, são amazônidas”, disse Viana.
De acordo com ele, há um orgulho de ter entre os colaboradores egressos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e do Instituto Federal do Amazonas (Ifam).
“Então aqui a gente representa, de uma certa forma, esse conjunto de jovens, de profissionais da região que trabalham arduamente com essa agenda de levar o desenvolvimento sustentável às comunidades”.
Bittar levantou que a entidade, no exercício do ano passado, teve uma receita de R$ 28 milhões, fruto de parcerias, contribuições e fundos.
“Os doadores estão discriminados. Entre eles, há vários doadores estrangeiros, como a Embaixada da França no Brasil, a P&G, a Times Foundation, Google da Caridade, a Swarovski, entre outros. Quais as condições impostas por esses doadores a respeito da aplicação dos valores e como ingressaram no Brasil os valores recebidos desses entes internacionais?”.
Viana afirmou que “cooperação internacional não é conspiração internacional”.
“Eu acho que a cooperação internacional é muito positiva. Eu queria aqui lembrar um saudoso e notável pensador amazônida, Samuel Benchimol, que defendia, na década de 50, que o mundo pagasse à Amazônia pelos serviços ecossistêmicos que a Amazônia gera”.
Sendo assim, Viana disse que a cooperação internacional é positiva.
“O Brasil deve, sim, receber recursos para ajudar na conservação da Amazônia. Isso é positivo. E em resposta bem direta à sua pergunta, toda elaboração de projetos feita por nós tem origem na nossa formulação”.
De acordo com o dirigente da FAS, não há uma imposição dos doadores.
“Nós não somos pautados por eles. Somos nós que apresentamos, em função daquelas oficinas de planejamento participativo que eu ilustrei na minha apresentação. As prioridades vêm de lá, e, a partir disso, nós formulamos projetos. Claro que às vezes temos sucesso, às vezes não temos sucesso”.
Valério questionou quanto de recursos chega para a atividade fim.
Em resposta, Viana afirmou que a atividade meio (salários, administração e comunicação) representava 23% dos gastos da entidade e 77% chegava na ponta.
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Fundo Amazônia
Cobrado sobre o uso de recursos do Fundo Amazônia, o superintendente disse que a entidade investiu em projeto de mecanização da produção e do transporte.
“O que nós fizemos? Nós investimos na cadeia produtiva. De novo, vai o tratorzinho ali ou a motinha, neste caso, é uma motinha que é ótima para levar o pirarucu dentro. Em vez de carregar o pirarucu nas costas, 100 quilos de pirarucu, 80 quilos de pirarucu, às vezes mais, isso vai na motinha”, afirmou.
Conforme ele, também foram comprados dezenas de barcos de transporte do pirarucu para que o pescador, em vez de vender para o marreteiro no beiradão, pudesse vender na sede do município.
“Além disso, nós investimos muito em microindústrias. Isto aqui é uma pequena fabricante, em Novo Aripuanã, na calha do rio Madeira, e esta é uma pequena fabricante em que a gente investiu com duas ou três batedeiras de açaí e uma meia dúzia de freezers. Este microempresário deu um salto na sua renda e isso permitiu também agregar valor ao produtor de açaí, à produtora de açaí”, afirmou.
O relator ainda questionou se não era contraditório a Noruega, que financia 90% do Fundo Amazônia, doar para projetos em países em desenvolvimento para deter a exploração de riquezas e, ao mesmo tempo, viver de exploração de petróleo.
“Olha, de novo a gente tem diferentes visões de mundo. E saúdo este espaço como um espaço democrático para a gente contrapor diferentes visões. Eu sou da opinião de que a cooperação internacional com países como a Noruega é do interesse nacional. O que é contra o interesse nacional é destruir a Amazônia e afetar o regime de chuvas no Brasil”.
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado