Ianomâmis: garimpeiros fogem, mas governo teme novas invasões

A Força Aérea faz controle e usa aeronaves com radares superpotentes. Voo suspeito pode ser abatido

06/02/2023 13:35

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Ianomâmis: políticos de Roraima têm elo com garimpo, acusa secretário

O governo Lula da Silva (PT) começou a operação de retirada dos cerca de 20 mil garimpeiros da terra indígenas Ianomâmi, no Amazonas e Roraima. Vídeos circulam na rede social com os infratores deixando o local, mas o Ministério dos Povos Indígenas teme novas invasões.

Na semana passada, a Força Aérea Brasileira iniciou controle do espaço aéreo e usa aeronaves com radares superpotentes nas áreas amarela (restrita) e vermelha (proibida). Qualquer tipo de tráfego suspeito está sendo interceptado para garantir que as regras sejam respeitadas.

“A preocupação é de que essa retirada não resulte novas invasões em outras áreas, como ocorreu há 30 anos”, publicou a pasta na sua conta oficial do Twitter.

A ministra Sônia Guajajara e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) se encontram em agenda na região. Neste domingo (5), ela sobrevoou a região de Homoxi, dentro da terra afetada pelo garimpo ilegal.

As lideranças também participaram de uma reunião e visita à Casa de Saúde Indígena (Casai), a qual abriga centenas de indígenas que estão sendo atendidos para cuidados em combate ao triste cenário de crise sanitária.

A comitiva vai continuar no local para acompanhar a operação de retirada dos garimpeiros e as ações para salvar as vidas dos indígenas.

Garimpeiros querem ajuda para deixar o território ianomâmi

Denúncias

Em nota, a Apib lembrou que foram mais de 20 denúncias sobre genocídio contra os ianomâmis e pedido de providências para a garantia da vida do povo nativo.

“Todas elas foram ignoradas pelo governo Bolsonaro e contribuíram para embasar o recente decreto assinado pelo presidente Lula, que estabelece as primeiras medidas para retirada do garimpo ilegal do território ianomâmi”, diz a entidade.

Nos últimos quatro anos o garimpo causou cerca de 570 mortes de crianças indígenas por doenças causadas pela contaminação por mercúrio, desnutrição e fome entre 2019 e 2022.

De acordo com o ministério, quase cem crianças de um a quatro anos morreram em 2022. Já foram confirmados 22 mil casos de malária no Distrito Sanitário Especial Indígena Ianomâmi, distribuídos entre 37 Polos Base.

As faixas etárias mais afetadas estão entre maiores de 50 anos, de 18 a 49 anos e 5 a 11 anos. “Tamanha tragédia comprova o projeto de extermínio conduzido pelo bolsonarismo, que visava destruir o povo indígena para entregar totalmente o território nas mãos da ganância do garimpo”, criticou a entidade.

URGENTE: vídeos de supostos garimpeiros deixando a TI Yanomami, em RR, circulam nas redes. A preocupação é de que essa retirada não resulte novas invasões em outras áreas, como ocorreu há 30 anos. A Apib está em agenda na região, em conjunto com MPI.#ministériodospovosindígenas pic.twitter.com/Ld0b7NuAwP
— Ministério dos Povos Indígenas (@mindospovosind) February 5, 2023