A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e mais oito organizações regionais encaminharam lista tríplice com indicações para titular do futuro Ministério dos Povos Originários. Pela região Norte, a preferência do movimento indígena é por Joênia Wapichana (Rede Sustentabilidade).
Além da deputada federal de Roraima, que não se reelegeu, foram sugeridos, portanto, a deputada federal Sônia Guajajara (Psol-SP) e o vereador Weibe Tapeba (PT), de Caucaia (CE).
Caso seja escolhida, Sônia teria que abandonar o mandato recém-conquistado. Ela ganhou destaque por integrar a chamada “bancada do cocar” nas eleições deste ano, quando teve 156.695 votos, ao lado de Célia Xakriabá (Psol-MG) e outras três indígenas eleitas.
Tapeba, por sua vez, teria de desistir do restante de mandato para virar ministro.
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Preferências nortistas
Entre os indicados, em uma parte do movimento indígena, principalmente da região Norte, o nome de Joênia está mais consolidado. Portanto, tem concordância da maioria dos povos indígenas.
Dessa forma, essa parte do movimento também afirma que Sônia precisa seguir no mandato na Câmara.
Tais lideranças e o movimento indígena alegam que trabalharam muito para ajudar na eleição dela. Assim sendo, não seria agradável ter uma campanha eleitoral que, na prática, é como se não tivesse existido.
Além disso, julgam que colocar Sônia no ministério que ainda vai ser criado por Lula da Silva (PT) racharia a “bancada do cocar”.
“Por conta disso, é preciso manter a linha estratégica que se tratou até aqui, não podendo haver uma interferência em um projeto futuro do movimento indígena”, disse liderança indígena.
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Experiência acumulada
Corrobora da mesma tese o coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima , Edinho Macuxi.
De acordo com ele, Joênia acumula experiência técnica e política. Daí, conforme afirmou, o desejo que assuma o futuro ministério.
“Ninguém pode desconsiderar a luta histórica da Sônia Guajajara em defesa dos povos indígenas do Brasil. Porquanto, a presença dela no Congresso Nacional é de suma importância. Logo, não faz sentido tirar uma pessoa da Câmara dos Deputados para dar um ministério onde vai perder visibilidade das ações e espaço político”, afirmou Macuxi.
Falta maturidade
Por outro lado, ele reitera o papel importante de Tapeba, mas pondera que ele ainda não tem maturidade nem experiência suficiente para comandar o ministério.
“Claro que ele pode assumir uma secretaria importante, estar ao lado da ministra para assessorar e ajudar na gestão do ministério, que é um marco histórico para o movimento indígena brasileiro”.
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Autodeterminação
No documento, encaminhado ao presidente eleito, a Apib afirma que as indicações asseguram a autodeterminação dos povos e o respeito às diversidades culturais e espirituais.
Igualmente, pede garantia de plenas condições de vida, saúde, educação e sustentabilidade dos povos indígenas e de todo povo brasileiro.
Em suma, as nove entidades destacam a importância do movimento indígena neste momento de reconstrução da democracia no Brasil.
“Isso, após o golpe de 2016 [impeachment de Dilma Rousseff] e os últimos quatro anos de políticas de morte, durante o governo de Jair Bolsonaro”.
Assinantes da lista
Além da Apib, assinam a carta:
– Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme);
– Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab);
– Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (ArpinSudeste);
– Grande Assembleia do Povo Guarani (Aty Guasu);
– Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpin Sul);
– Conselho do Povo Terena;
– Comissão Guarani Yvyrupa (CGY); e
– Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga)
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Quem são os indicados
Joênia tem 49 anos, elegeu-se deputada federal por Roraima em 2018 e é a primeira mulher indígena a ocupar o cargo. É também a primeira advogada indígena a exercer a profissão no país em prol dos direitos dos povos originários. Daí, portanto, a preferência do movimento indígena da região por seu nome.
Sônia Guajajara, de 48 anos, foi eleita deputada federal neste ano por São Paulo, na votação que mais elegeu representantes indígenas no Brasil. A parlamentar esteve presente na última COP-27 representando a Apib, ocasião em que cobrou publicamente de Lula a criação do Ministério dos Povos Originários.
Weibe Tapeba tem 33 anos e é advogado, no segundo mandato de vereador no interior cearense. Seu nome recebeu indicação em consenso pelas organizações indígenas do Nordeste.
Fotomontagem/Apib