Iram Alfaia , de Brasília
O governo da Alemanha não ficou contente com as alterações pretendidas pelo governo brasileiro na gestão do Fundo Amazônia e ameaça deixar de contribuir com a causa ambientalista no Brasil. O país é o segundo maior doador internacional de recursos financeiros para o fundo gerenciado pelo BNDES.
Projetos de preservação ambiental no estado do Amazonas, como o Bolsa-Floresta, já receberam R$ 146 milhões.
De acordo com declaração do embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, ao jornal O Globo, caberá ao ministro do Meio Ambiente alemão a decisão de manter o país no fundo.
O país já contribuiu com R$ 192 milhões contra apenas R$ 17 milhões do Brasil. A Noruega é o maior doador, com R$ 3 bilhões.
Witschel diz que o seu o país não concorda com a utilização dos recursos para outros fins que não sejam projetos de preservação ambiental.
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Reunião com embaixadores
Na segunda, dia 27, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, teve reunião com os embaixadores da Noruega e Alemanha. Ele voltou a afirmar que há irregularidades em ao menos 1/4 de 103 projetos em vigor.
Salles diz que o governo editará um decreto estabelecendo regras gerais para o Fundo Amazônia.
Também não descarta usar o dinheiro para indenizar proprietários rurais que possuem áreas dentro das unidades de conservação.
Entre as principais irregularidades e inconsistências que o ministro brasileiro diz ter identificado, que levaram ao afastamento de gestores do fundo no BNDES, estão “altas despesas administrativas e gastos excessivos com folha de pagamento” dos projetos.
A embaixada da Noruega discordou do ministro, em nota, e elogiou a gestão do fundo.
O ministro não quis comentar as declarações em entrevista após a reunião com os embaixadores.
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Guerra contra ongs
Em meio à polêmica, ambientalistas acusam o ministro de ter começado uma guerra contra as organizações não governamentais (ongs), conforme prometeu o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), desde a campanha eleitoral de 2018.
A assessora do Instituto Socioambiental (ISA) Adriana Ramos, que já foi representante da sociedade no comitê gestor do fundo, disse que nunca houve nenhum tipo de reclamação ou resultado negativo de avaliação, seja por parte das avaliações independentes ou auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU).
“Projetos de assistência técnica aos estados para implementação do Cadastro Ambiental Rural, por exemplo, são projetos feitos de pessoal, não tem outros custos envolvidos além de deslocamento e pessoal. Isto é, não são irregularidades formais, são interpretações dele [ministro] de que aquilo é um problema”, disse.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil