A forte presença do movimento indígena na equipe de transição do governo Lula está causando disputa política entre os aliados e muito ciúme.
Após a reclamação formal da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que criticou a ausência da entidade nos grupos de transição, agora, é o próprio Partidos dos Trabalhadores (PT) quem se insurge.
O coordenador do setorial nacional de assuntos indígenas do PT, Romeu Vasconcelos Tariano, soltou uma nota, nas redes sociais , criticando a escolha do líder indígena do Rio Negro, Marivelton Barroso.
Diretor-presidente da Foirn (Federação dos Povos Indígenas do Rio Negro) e membro da Rede Sustentabilidade, Marivelton, do povo Baré, é um dos nove nomes do Amazonas a compor a equipe de transição.
No entanto, Romeu Vasconcelos diz que os critérios para a escolha dos nomes não levaram em consideração as populações indígenas e suas representações políticas no Partido dos Trabalhadores.
“Fomos totalmente ignorados pela equipe de transição que nomeou para participar do GT dos Povos Originários o senhor Marivelton Baré que, embora seja da região, não apoia o Partido dos Trabalhadores e sequer fez campanha para a eleição do presidente Lula”, afirma Romeu Vasconcelos.
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Extrema direita
Segundo o dirigente petista, Marivelton e sua cúpula passaram quase quatro anos dizendo “amém” ao governo de Bolsonaro e ainda acusa o diretor da Foirn de ser apoiador da extrema direita.
“Por isso, venho a público esclarecer que como coordenador do setorial de assuntos indígenas do Partido dos Trabalhadores não me consultaram, não indiquei e não sou de forma alguma partícipe ou conivente da infeliz escolha de Marivelton Baré para o GT de transição dos Povos Originários”, conclui.
O presidente da Foir, Marivelton Baré, o alvo da discórdia de ala petista. Foto/Foirn
Curubão é raiz
Na avaliação de Romeu Vasconcelos o prefeito de São Gabriel da Cachoeira, Clóvis Saldanha (Curubão) é o único indígena capaz de representar os povos originários de São Gabriel da Cachoeira na equipe de transição do governo Lula.
Isto porque Curubão é um “petista-raiz”, indígena, (etnia tariana) e que seu trabalho teve aprovação da população, já que se elegeu em 2016 e reeleito em 2020.
Divergência interna
Mas, parece que a crítica de Vasconcelos ao nome de Marivelton Baré não tem a mesma sintonia com os outros membros do setorial indígena do PT.
A líder indígena Quenes Gonzaga Vilanova Payayá, que participa do grupo político, diz que a posição de Romeu Vasconcelos, é individual.
Segundo ela, a rejeição ao nome do presidente da Foirn não teve discussão e muito menos legitimação pelos demais integrantes das seis instâncias estaduais que integram o Setorial Nacional de Assuntos Indígenas do PT.
“Somos solidários e reconhecedores do importante trabalho que o líder Marivelton Baré faz junto aos povos indígenas da Amazônia e do Brasil”, afirma Quenes Payayá.
Porta-voz legítimo
Em nota, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) , que representa 23 povos indígenas e 750 comunidades nos municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, destaca o papel de Marivelton Baré e sua trajetória.
“Marivelton Baré é liderança, representante e porta voz legítimo do movimento indígena do Rio Negro, integrante da Rede Sustentabilidade, em defesa dos direitos coletivos e socioambiental dos territórios e oposição ao governo Bolsonaro.
Além de liderança indígena, vem lutando sempre contra a violação de direitos locais e regionais contra invasão e garimpos ilegais, defendendo os direitos coletivos dentro do território.
Portanto, a representatividade de Marivelton é diferente de um poder executivo municipal, visto não termoss vínculos de barganha política para alcançar projetos”, diz a nota de esclarecimento da Foirn.
Apoios de entidades
Da mesma forma a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) manifestaram apoio à indicação do presidente da Foirn à equipe de transição.
Leia as notas, na íntegra, de apoio e manifestações públicas das entidades indígenas.
Foto: Ricardo Stuckert