Antes de inaugurar na manhã desta terça, dia 1º, o Agosto Dourado, o prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), abriu um novo capítulo do conflito estabelecido com o governador David Almeida (PSD) a partir do domingo passado, com uma carta que o tucano escreveu para o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski.
“Eu já debati com o senador Jarbas Passarinho, já debati com o senador Paulo Brossard, já debati com o deputado Ulysses Guimarães. Não me peçam para ir jogar na várzea porque eu sou mais Maracanã”, cutucou Arthur ao ser questionado sobre a carta e as declarações de David.
O prefeito disse que não tem resposta ao governador interino. “O que tem é exigência de que se cumpra a jurisprudência do STF que diz que em casos de renúncia, de impeachment e em casos que não são eleitorais, a eleição é direta”, afirmou Arthur à imprensa.
Ele também provocou David dizendo que há uma eleição marcada para acontecer em poucos dias e que é preciso “não ter saúde mental nenhuma para imaginar que vai ser interrompida uma eleição dessa”.
O magistrado é o relator da matéria da liminar que expediu no início do recesso judiciário suspendendo a eleição direta a governador no Amazonas, sentença que foi derrubada em seguida pelo ministro Celso de Mello. Agora, na volta das férias, Lewandowski terá de se manifestar.
A polêmica entre Arthur e David nasceu nesse ponto. O prefeito denunciou que o governador interino vem usando o nome do ministro para dizer que ele vai suspender novamente a eleição na quinta, dia 3, há três dias da votação prevista pela Justiça Eleitoral.
Leia a carta de Arthur a Lewandowski :
Prezado ministro Ricardo Lewandowski,
O deputado David Almeida, presidente da Assembleia Legislativa e governador tampão, usa levianamente o seu nome, “antecipando” aos quatro ventos que, no dia 3 próximo, o senhor tornaria a suspender as eleições diretas para governador, marcadas para o dia 6 deste mês.
Círculos próximos ao interino envolvem um certo dr. Gustavo, advogado da causa inglória de trocar o voto popular pela opinião de 24 deputados. Estamos às portas de uma eleição. A justiça eleitoral já despendeu vultosos recursos para fazer face à complicada logística do meu Estado. Os candidatos pararam suas vidas, fizeram gastos, contrataram profissionais e serviços vários. O povo entenderia como afronta impedi-lo de escolher.
A Assembleia é obviamente necessária à democracia… porém, mais obviamente ainda, sua legitimidade não é maior que a do poder original e primeiro, que está no título de eleitor e na urna. A democracia tem permitido que venham à luz as aberrações que temos presenciado. A ditadura escondia, pela força, os crimes e as negociatas que se praticavam contra a nação. Logo, voto popular, sim; “colégio eleitoral, não”.
O Amazonas vive o caos que lhe legou a prática organizada da corrupção. E o governador tampão apenas tem contribuído para agravar esse quadro lamentável. Vive a fixação de se manter no poder a qualquer preço, esquecendo-se de que o destino lhe reservara a missão nobre de dar início ao processo de normalização de um estado que sangra dolorosamente. Seus dias são desperdiçados batendo perna em caríssimos escritórios de advocacia de Brasília. Seus dias são perdidos, inclusive, quando difama um ministro do STF, que sempre respeitei e estimei, apregoando que “está tudo certo para o dia 3 e o cancelamento das eleições diretas”.
Escrevo-lhe, caro ministro, convicto de que agi acertadamente ao recebê-lo em meu gabinete de senador e em articular votos que o guindaram à mais elevada corte deste país. Não aceito vê-lo arrastado, tenho certeza de que inocentemente!, à convivência promíscua com negocistas da baixa política, seja diretamente, seja por meio de intermediações de cor cinza.
Conte com minha solidariedade nesse campo, porque, repito!, jamais poderia acreditar na boataria, certamente sem crédito, espalhada por figuras despidas de qualquer eiva de credibilidade.
Tentei falar-lhe ao telefone inúmeras vezes, assim como lhe deixei mensagens via SMS e WhatsApp. Como não obtive retorno, recorri a este meio para lhe passar o clima de angústia e incerteza que aflige os brasileiros que dedicam suas vidas ao Amazonas.
Muito cordialmente,
Arthur Virgílio Neto
Manaus, 30 de julho de 2017
Foto: BNC