O adiamento da votação no Senado do projeto que legaliza jogos de azar, como bingos, cassinos e o jogo do bicho, reflete o intenso embate político e social em torno do tema. A proposta, que busca pôr fim a uma proibição de quase 80 anos, enfrenta resistências que vão além das disputas ideológicas, abrangendo questões econômicas, sociais e de saúde pública.
Um tema polarizador
A suspensão da análise para 2025 ocorre em meio a um cenário de divisão interna no Congresso. Embora a base do governo, em sua maioria, apoie a regulamentação, o adiamento teve o aval de 13 parlamentares aliados, revelando fissuras na articulação política. Argumentos favoráveis, como os do relator Irajá (PSD-TO), destacam o potencial de controle estatal, arrecadação de impostos e combate ao crime organizado, mas enfrentam contrapontos robustos, como o de Eliziane Gama (PSD-MA), que alertou para o impacto social negativo, sobretudo sobre a população mais vulnerável.
Questões econômicas e saúde pública em pauta
Um dos principais entraves é a necessidade de estudos sobre o impacto dos jogos no sistema público de saúde, especialmente no tratamento de ludopatia e compulsões. Esse foi o argumento central do senador Flávio Arns (PSB-PR) ao propor o adiamento, acatado com apoio de figuras de destaque, como Chico Rodrigues (PSB-RR) e Paulo Paim (PT-RS), que mudaram de posição em relação à regulamentação de cassinos online. A consulta aos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social reflete uma preocupação legítima com as possíveis consequências para os serviços de assistência social e saúde mental no país.
Um debate que transcende fronteiras partidárias
A mudança de postura de senadores anteriormente favoráveis à regulamentação de bets revela como o debate transcende alinhamentos partidários. Mesmo dentro do governo, há dissidências, como os votos de congressistas do PT a favor do adiamento. Essa dinâmica evidencia que a legalização dos jogos de azar não é apenas uma questão de arrecadação ou regulamentação, mas de como a sociedade brasileira encara a relação entre entretenimento, controle estatal e impactos sociais.
O futuro dos jogos de azar no Brasil
O relator Irajá defende que o projeto é uma oportunidade para quebrar o domínio do crime organizado sobre as práticas ilegais de jogos de azar. No entanto, a oposição de líderes religiosos e sociais, somada à pressão por regulamentações mais rigorosas, mantém o tema em compasso de espera. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já sinalizou apoio à regulamentação, desde que acompanhada de regras estritas, o que indica que o governo precisará reforçar sua capacidade de articulação no Senado.
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Com a votação prevista para 2025, o debate seguirá como um termômetro do equilíbrio entre interesses econômicos, sociais e políticos.
O desfecho poderá redefinir a postura do Brasil sobre a legalização dos jogos e seu impacto no desenvolvimento do país, mas não sem antes passar pelo crivo de um Congresso dividido e de uma sociedade em alerta.
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Foto: banco de imagens Pixabay