A CPI da covid , ou da pandemia, do Senado é, de longe, a de maior ibope junto ao brasileiro. Já se disse. A tal ponto de ter quem só saia da frente da TV quando o depoente sente fome ou pede para ir ao banheiro. Tudo para não perder nenhum lance. Como o de ontem (29), protagonizado por advogada do senador Eduardo Braga (MDB-AM), membro titular da comissão.
Ela, segundo o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), estava “emprestada” para ajudar Fausto Júnior. Este, deputado estadual comandado por Braga no MDB do Amazonas, depunha sobre o que, afinal, relatou na CPI da saúde da sua Assembleia Legislativa (ALE-AM).
A advogada, ao ver seu cliente “ir às cordas”, já “beijando a lona”, tomou a iniciativa de “jogar a toalha”. Muitos imaginaram que ela jogaria a garrafa de água que tinha às mãos.
Foi quando, já na última abordagem da sessão, sob forte pressão da bolsonarista Soraya Thronicke (PSL-MS) para revelar o porquê de não ter pedido na CPI do Amazonas, como relator, o indiciamento do governador do estado, Fausto Jr. se enrolou ao fazer alegação absurda para sua omissão.
Como não conseguia achar artigo na Constituição estadual que citou para amparar seu inócuo relatório, o deputado tentava se socorrer dos advogados. Ao mesmo tempo, a senadora aumentava a pressão.
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A gota fatal
Foi então que Aziz deu a gota de gasolina que faltava para a advogada sair so seu cantinho na sala. Ele disse à senadora, fora do microfone:
“Ele [Fausto] está com dificuldade…”.
Contudo, antes da causídica, o depoente mostrou todo o seu desespero, esbravejando:
“Me respeite, senador!” (repetiu três vezes).
Pronto. Foi a senha para a advogada de Braga, a serviço de Fausto Júnior, assumir a cena do dia na CPI. Ela foi em direção à mesa diretora com a garrafa na mão. E mirando o seu presidente, gritou:
‘O senhor [Aziz] afronta o depoente, o senhor afronta os advogados… Respeite a Constituição do Brasil! O senhor afronta o depoente, o senhor afronta os advogados! A advocacia é prevista na Constituição Federal!”.
Na tentativa de arrefecer os ânimos, portanto, Aziz pediu calma e justificou que ninguém ali lhe faltara com o respeito.
Mas, seguindo a linha do cliente, a advogada também bradou: “Me respeite! Me respeite!. O senhor, desde que se sentou nesta cadeira, o senhor está desrespeitando…”.
Como resultado, não vendo outra saída para o “arranca-rabo” (discussão acirrada, no popular), o presidente encerrou a sessão.
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Aziz revela digital do circo
Não sem antes revelar, portanto, o que estava se dando ali naquele momento:
“Isso aí é o seguinte: vocês estão tentando armar um circo aqui . Não comigo […] Foi aqui feita uma preparação. E aí parabéns para quem preparou o deputado Fausto. Ele conseguiu aqui… Agora, ele não sabia dizer por que ele não fez outras coisas que poderia”.
Em conclusão, Aziz voltou a se referir à advogada:
“Dizer à doutora Gina [de Almeida] que eu não fui deselegante com ela, e sei que ela advoga muito bem, até porque ela advoga para o senador Eduardo Braga, e a gente conhece a forma como ela advoga…”.
Para esclarecer : as expressões “ir às cordas”, “beijar a lona” e “jogar a toalha” têm origem no boxe e são referentes à situação difícil do pugilista no combate. “Jogar a toalha”, por exemplo, é quando o time de apoio do lutador reconhece a derrota e pede ao juiz que evite que ele continue apanhando. Já “perder as estribeiras” é expressão bastante popular que quer dizer “perder a calma, se irritar”.
Foto: Reprodução/TV Senado