Em meio a uma briga envolvendo o uso da cédula impressa e o sistema interno da Câmara, a Frente Parlamentar Evangélica anulou nesta quinta-feira (02/2) a eleição do novo presidente da bancada. Foi a primeira vez na história que o grupo criado em 2003 não escolheu o seu representante por aclamação e precisou recorrer às urnas.
Ligado à Assembleia de Deus da região Norte, o deputado Silas Câmara (Rep-AM) era considerado o favorito para derrotar o deputado Eli Borges (PL-TO) e o senador Carlos Viana (Podemos-MG).
Nos últimos dias, Eli chegou a despontar com força, devido à articulação do PL e da desistência do deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), que declarou voto nele.
Quando a eleição por cédula estava se encaminhando para o fim, o grupo de Eli começou a questionar supostos indícios de fraude no registro de votos.
“Se for declarado um vencedor, eu vou judicializar porque essa eleição foi fraudada”, declarou Otoni de Paula, ao se retirar irritado no meio da reunião da bancada evangélica.
Segundo ele, parlamentares que não estavam subscritos como membros da Frente votaram em Silas Câmara.
“A gente não diz que somos crentes, irmãos, que somos a palmatória do mundo, que a gente corrige gay, todo mundo. E faz essa sacanagem aqui dentro, eu não tolero isso, não”, acrescentou Otoni.
Devido à confusão, a reunião durou 4 horas e terminou sem se chegar a uma definição. A eleição foi remarcada para a segunda quinzena de fevereiro.
“A minha decisão foi pela nulidade da eleição. Vou publicar um novo edital. Nós tivemos dificuldades por causa do sistema de informática da Câmara”, disse o atual presidente da Frente, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
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Os nomes de inscritos fornecidos pela Casa Legislativa não batiam com os da cédula impressa. Segundo ele, houve um problema técnico nas ferramentas de informática da Câmara, que não atualizou o registro de integrantes da bancada, como o da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e do pastor Sargento Isidorio (Avante-BA), por exemplo. A inscrição é o que conferia o direito ao voto.
“Briga, briga e briga. Está parecendo o PL”, disse um deputado evangélico, aos risos, ao sair no meio da deliberação.
Prevendo o confronto, Sóstenes já havia determinado que a deliberação ocorresse a portas fechadas – até assessores de parlamentares foram impedidos de entrar na sala.
“Eleição dá essa confusão mesmo. Por isso, eu sempre fui a favor de um acordo”, afirmou Sóstenes.
Antes da reunião, existia a possibilidade de os candidatos entraram em um consenso para selar a paz. Entre os deputados, que se consideram “irmãos na fé”, houve a sugestão de que um candidato assumiria no primeiro ano e o outro, no segundo.
O problema é que os dois postulantes mais competitivos – Silas Câmara e Eli Borges – queriam iniciar a legislatura na presidência e não arredaram o pé. A votação, então, foi realizada.
Em seu sétimo mandato como deputado federal, Silas já foi presidente da Frente entre 2019 e 2020 e mantém diálogo com líderes de diferentes denominações.
Irmão do pastor Samuel Câmara, líder da chamada Igreja-mãe da Assembleia, ele conta com o apoio de parlamentares da Universal, como o senador Marcelo Crivella e o deputado Márcio Marinho, ambos do Republicanos.
E até de membros da igreja de Eli, a Assembleia de Deus do Ministério Madureira. O principal deles é o deputado Cezinha da Madureira (PSD-SP), que já presidiu o comitê durante 2021.
A favor de Eli Borges, há o respaldo de boa parte do PL e a movimentação do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto. O PL possui hoje a maior bancada na Câmara e na frente evangélica.
“Ele (o deputado Eli) tem muitas chances. É o favorito”, disse Valdemar ao GLOBO, nesta quarta-feira.
Crivella disse que a confusão na eleição e a falta de consenso não significam que há um racha no bloco. Ele ponderou:
“Seguimos o que a Bíblia diz: O pai é nosso, de todos nós”, declarou ele.
Leia mais na matéria de Eduardo Gonçalves no O Globo