Em grupos de redes sociais que misturam petistas, comunistas, socialistas e outras correntes partidárias o embate nos comentários, debates e trocas de acusações são predominantemente sobre o veto do diretório estadual do PT no Amazonas à candidatura do ex-deputado federal Francisco Praciano ao Senado.
Os partidários de Vanessa Grazziotin, do PCdoB, e de Praciano travam desde as convenções do último fim de semana um debate que vai se tornando mais tenso a cada dia sobre o acordo que enterrou o desejo do petista de ser candidato.
E um post atribuído à presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, que circulou em redes sociais neste dia 7, colocou mais lenha na fogueira por ela foi taxativa: “Que fique claro, a candidatura do PT ao Senado no AM é Vanessa Graziotin!”.
Leia o que escreveu Gleisi, na íntegra:
“Companheiras, tá sendo muito difícil esse período de condução do processo pré eleitoral, em especial o processo de alianças, nacionais e estaduais. Quis a vida me colocar nesse lugar, no momento mais difícil da história política do país e do meu partido, em que milito há quase trinta anos. Sem Lula, com um golpe continuado, sem referência institucional e democrática, temos de sobreviver pra disputa eleitoral. Esperança de mudança mais próxima para o tão sofrido e triste povo brasileiro, q não tem onde se agarrar, a não ser em Lula, seu legado e sua esperança.
Levei tudo com muita transparência e conversação com todos envolvidos no PT e em outros partidos.
Dito isso, quero deixar claro q no AM definimos por uma aliança com PSB e PCdoB. O PT não lançou candidatura ao Senado para apoiar a companheira Vanessa, mulher de luta, valorosa, guerreira. Estamos tendo problemas com o a aliança com o PSB. Amanhã eu e Luciana, presidenta do PCdoB conversaremos e vamos procurar o presidente do PSB pra resolver a situação de Vanessa. Que fique claro, a candidatura do PT ao Senado no AM é Vanessa Graziotin!
Gleisi Hoffmann”
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Reação a Gleisi por Praciano
Em reação ao post de Gleisi e ao acordo PT-PCdoB , o sociólogo petista Lúcio Carril, que tem assumido mais ferrenhamente a defesa de Praciano candidato, deu título a trecho de matéria do BNC Amazonas publicada nesta terça, dia 7:
“A CONFIRMAÇÃO DO GOLPE
A decisão unânime da executiva estadual do PT no Amazonas de abrir mão de lançar candidato ao Senado foi formalizada nesta segunda, dia 6, com o envio ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-AM) da ata da convenção do partido, que aconteceu no domingo, dia 5.”
Antes, Carril postou o texto abaixo, que provocou contestações e uma certa dose de tensão do lado comunista.
“A VERDADE SOBRE O GOLPE QUE TIROU PRACIANO DA DISPUTA PARA O SENADO NO AMAZONAS
É a seguinte: foi uma das condições do PCdoB para retirar a candidatura da Manuela a presidência e entrar no bloco apoiando o candidato do PT, seja Lula ou Haddad.
A direção nacional do PT vendeu a candidatura do PRACIANO, num jogo fisiológico, cedendo à pressão do PCdoB.
A direção nacional do PT sabia e sabe que o verdadeiro objetivo do PCdoB é beneficiar a candidatura de Eduardo Braga, seu velho aliado, tirando PRACIANO do jogo, já que Braga detém imensa rejeição e PRACIANO nenhuma.
A direção estadual do PT, dominada por Sinésio Campos e Waldemir Santana aceitou o acordo nacional e se acovardou, não homologando a candidatura do PRACIANO.
Em resumo: foi um acordo de canalhas, orquestrado pelo PCdoB, que tirou do Amazonas o direito de eleger um homem de bem e de luta para o senado.
Foi isto. PRACIANO está fora”.
Acordo ou golpe?
Para os militantes petistas que se sentem representados pelo tom adotado por Carril, limar o nome de Praciano, que estaria aparecendo bem nas pesquisas eleitorais de pré-candidaturas, é golpe violento semelhante ao que está sendo aplicado sobre o desejo do ex-presidente da República Lula da Silva de concorrer neste pleito.
O que chamam de golpe a Praciano saiu de um acordo entre as cúpulas nacionais de PT e PCdoB para tornar a senadora Vanessa Grazziotin o principal nome ao Senado na coligação com o PSB do candidato a governador David Almeida.
Como contrapartida, o PCdoB retirou Manuela D’Ávila da disputa à Presidência da República e a deixou à disposição para ser a vice na chapa com o PT de Lula, ou Fernando Haddad.
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A força de David no episódio
Essa indignação de parte da militância petista no Amazonas é maior com a direção estadual do partido, por ter aceitado preterir Praciano sem esboçar qualquer reação de defesa do companheiro.
O PT abriu mão de um nome que nas eleições de 2014 ao Senado obteve 34% da preferência do eleitorado, o que representou quase 550 mil votos, reclamam os petistas.
Segundo um deles, Praciano foi nome defendido pelo candidato a governador da coligação PT-PSB, o deputado David Almeida. Na convenção, ele teria declarado:
“Respeito muito a deliberação do PT. O Praciano somaria demais como senador. Ficaria muito honrado, feliz e satisfeito que ele estivesse no mesmo palanque comigo”.
De outro lado, David teria forte oposição em apoiar Vanessa e a aliança com o PSB ainda não é decisão tomada no caso do Amazonas, como disse a própria presidente do PT.
A reação comunista
Os partidários de Vanessa reagiram a Carril e justificam que o sacrifício de Praciano é o preço a pagar para ter Manuela D’Ávila.
“…Pois bem, se de fato, a candidatura única da esquerda ao senado no Amazonas foi condição da direção nacional do PCdoB para coligar com o PT, sacrificando a candidatura de Manuela D’Ávila à Presidência, eu quero parabenizar a direção pela decisão inteligente e acertada. É assim que se negocia, pega o teu dá pra cá o meu… portanto vamos nos acalmar e olhar de forma mais ampla o que é melhor para o Amazonas, o Brasil e a esquerda”, escreveu um deles.
Outra comunista, a ex-vereadora Lúcia Antony, defendeu o PCdoB e o apoio do PT à candidatura de Vanessa:
“Nós não articulamos a retirada da candidatura do Praciano, nós discutimos um projeto de resistência consequente e que parece que vocês não querem pactuar. É preciso reeleger Vanessa porque ela foi a única do Amazonas que defendeu esse projeto”.
Com a palavra, o sacrificado
O próprio Praciano, que já anunciou sua retirada deste pleito, reagiu ao debate:
“Não estou entendendo nada!! Eu já estou fora. Não estou fazendo nenhum movimento ou articulação. Não quero atrapalhar a coligação, nem as candidaturas proporcionais, nem a candidatura da Vanessa. Deixo todos a vontade. Façam o que acharem melhor. Não quero ficar nesse fogo cruzado!!! Eu estou atrapalhando? Acertem-se!!!!”.
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Mensagem de apoio de velho companheiro
O professor Luiz Fernando, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), publicou um post defendendo o petista:
Milito num partido político com contradições profundas no plano estadual. A política pequena, com toques de reacionarismo golpista não é algo internamente estranho ao PSOL Amazonas. Já temos demônios por demais da conta. Mas, me permitam um abraço solidário no Praciano, do PT.
Conheci o Praciano ainda nos anos 90. Eu, estudante de graduação nas ciências sociais, o via sempre na entrada do ICHL prestando contas de seu mandato.
Praciano na luta pela mobilidade urbana em Manaus, pela prestação de contas e abertura da caixa-preta do sistema rodoviário. Praciano no alto da Kombi mandando recado para os trabalhadores no T5. Praciano no Congresso Nacional. Praciano num bate-papo no Zumbi II. Praciano ajudando a construir a democracia interna do PT local. Praciano, às vezes contraditório (e quem não o é?), mas incansável na luta pelo mundo do trabalho. É assim que vejo o Praça.
Nestes tempos temerosos, de golpes, as organizações de esquerdas no Amazonas estão na rota de fogo de suas cúpulas. Aquele que tem a coragem de rir e escarnecer do movimento que inviabiliza a candidatura de Praciano ao Senado deveria ouvir o aviso de Marx, em O Capital: “De te fabula narratur!” (É sobre ti esta história).
Não há vencedores num arranjo assim. As esquerdas e as forças progressistas se apequenam mais e reforçam as velhas estruturas de poder das oligarquias amazonenses.
Um abraço, Praça!
Fotos: BNC Amazonas