Episódio ocorrido nesta quarta-feira (26), na inauguração da escola municipal General Aristides Barreto, zona oeste de Manaus, revela o comportamento da neogeração de políticos da lacração.
O termo é uma linguagem da internet. Trata-se de uma estratégia para gerar impacto e engajamento em postagens nas redes sociais. É uma atitude negativa que cresceu desde as eleições de 2018, muito incentivada por Bolsonaro e seus seguidores.
Em tempos idos recentes, diria-se que é uma tentativa de certos políticos de aparecer, não se importando como isso acontecerá.
O problema, porém, é que a lacração política perdeu os bons tratos da liturgia das relações públicas, pessoais, humanas.
A ânsia de bombar, de viralizar, nas redes sociais é tanta que a ofensa chega a ser natural por esses tipos.
No caso de Manaus, por exemplo, o vereador Rodrigo Guedes (Republicanos), tentou tratar de assuntos de gabinete com a secretária municipal de Educação, Dulci Almeida, dentro da escola. Portanto, no ambiente de trabalho da servidora da prefeitura.
E como é preferido por lacradores, aconteceu na frente de uma plateia.
Foi após a inauguração da obra, assim que o prefeito David Almeida, irmão de Dulce, saiu do evento.
Diante da comunidade escolar, aos gritos, Guedes parabeniza a servidora pública dizendo que a obra saiu, mas porque ele acionou o Ministério Público.
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Lacração bem arquitetada
A secretária, como devido, reagiu dizendo que não recebeu nenhum ofício do parlamentar.
Os fatos, o contexto, contudo, desmentem o vereador. Por exemplo, a escola em questão é apenas uma de 310 unidades escolares que o prefeito inaugurou nos últimos meses.
Logo, por um simples exercício de lógica, pode-se compreender que a escola que o vereador escolheu para sua lacração não é um caso específico.
Dessa maneira, a grande questão é que Guedes agrediu uma servidora pública com premeditação. Isso posto, revelou que houve um plano, que arquitetou a lacração, com o intuito de ganhar likes nas redes sociais. E deu provas disso ao levar servidores de seu gabinete, mantidos com dinheiro público do contribuinte, para igualmente agredir a secretária da prefeitura.
Mais grave ainda por se tratar de um ataque a uma mulher, em seu ambiente de trabalho.
Sobretudo, o vereador esperou o prefeito sair do local para então iniciar o show de lacração.
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Fora da curva
Estamos nos referindo a um parlamentar que, até aqui, desenvolve importante papel no serviço público. Todavia, perder o respeito pela mulher e pelas relações institucionais e humanas macula seu currículo. E pode se caracterizar um caso de violência política de gênero.
Guedes até aqui se revelou um vereador atuante, com posições de defesa do interesse público. Daí ter causado muita estranheza esse comportamento fora da curva.
Observadas as devidas proporções, a lacração do vereador se assemelhou às do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira . Como aquela que ele, no Dia da Mulher, em crime de transfobia, pôs uma peruca e se autodenominou “deputada Nicole”, em agressão às mulheres.
Como resultado, hoje é motivo de chacota entre seus pares, que o tratam por “Chupetinha “. E pode até perder o mandato.
Ademais, o parlamento tem importantes ferramentas para que ele exerça sua função pública. O falar, a tribuna, por exemplo.
Foto: BNC Amazonas